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'SE CALAREM AS VOZES DOS PROFETAS AS PEDRAS FALARÃO'








quarta-feira, 14 de julho de 2010

O dom da amizade

por Dom Orlando Brandes

A amizade é o que existe de melhor, depois da sabedoria, sendo que a sabedoria é o mesmo que virtude. Só pode haver verdadeira amizade entre pessoas de bem. Daí que a amizade requer lealdade, constância e justiça. Na amizade tudo é verdadeiro. O maior ornamento da amizade é o respeito. Nula é a amizade onde não há verdade. O que faz a amizade é a estabilidade entre os amigos. Sem virtude não há amizade possível, mas apenas bajulação, adulação, paixão. Entre as pessoas de bem há uma inevitável simpatia e condescendência.

A amizade tem grande poder de sedução e de atração pela força da afeição entre as pessoas amigas. A afeição cria vínculos, mais que o parentesco. É a afeição que proporciona o bem-estar entre os amigos, a simpatia recíproca. É sedutora a troca de atenções e bons serviços. Sem amizade a vida não é amável. Na mais profunda amizade se encontra a mais profunda doçura. Sem afeição e simpatia a vida não tem alegria, porque a afeição se traduz em benevolência, afabilidade, reciprocidade. Portanto entre pessoas de bem. Quanto mais somos generosos, bondosos, desinteressados, amorosos, mais amizades conquistamos. Eis a força do valor moral.

O amigo é como um outro de nós mesmos, uma versão exemplar de nós mesmos. A amizade torna os dutos golpes da vida mais leves e mais maravilhosos os favores da vida porque podem ser comunicados e partilhados com alguém. A amizade dá otimismo para o futuro, não permite a capitulação nem a desmoralização. Retirar a amizade da vida é como retirar o sol do mundo. Nela encontramos satisfação, descanso, conselhos, partilha. Nada esposa melhor todos os momentos da vida que a amizade. Por isso deve ser preferida a todos os bens da terra, porque é prestativa, respeitosa, fiel.

O maior flagelo da amizade é a bajulação, a adulação, a complacência fácil. É preciso distinguir o amigo do bajulador. É erro pernicioso imaginar que na amizade as portas estão abertas a todos os abusos. Somos obrigados a fazer advertências e até repreensões aos amigos, embora com cortesia e sem adulação. A amizade é para a gente crescer no bem e não para a cumplicidade nos vícios. A verdadeira amizade controla a paixão. É sórdido preferir dinheiro, honrarias, prestigio no lugar da amizade. Aqui a amizade vira ódio. Nada mais desastrosos que o atrativo lucro, da concorrência, da cumplicidade. É lei da amizade nada pedir de vergonhoso aos amigos, querer que eles saciem nossas paixões, sejam cúmplices de uma injustiça. Isso faz perecer a afeição e engendra ódios eternos.

Pela amizade os ausentes estão presentes no afeto, os indigentes são ricos, os fracos são cheio de força, os mortos estão vivos na lembrança. Sem amizade nenhuma casa fica de pé, nenhuma cidade subsiste, a vida na terra é insuportável, porque ela é um sentimento de amor verdadeiro e espontâneo, que ameniza o convívio. Sem amizade a vida se esvazia. O amigo é um tesouro.

A amizade fiel é um refúgio seguro e não tem preço que pague. É um tesouro inestimável e dom de Deus. Deus cria os amigos, leva o amigo ao amigo. Sem amigos somos como estrangeiros, com os amigos nos sentimos em casa. Com um amigo ao lado nenhum caminho é longo. Na verdade o amigo é um escudo contra emoções negativas, é como asa que nos eleva acima do pó da terra. O amigo é a visibilidade e o sacramento de amor de Deus. É como sol que ilumina a vida.

A amizade é feita de gratuidade e não de gratificações. Quanto mais gratuidade, mais felicidade. A amizade requer fidelidade e portanto sempre a verdade. Onde entra a falsidade morre a amizade. A harmonia de visão, a vontade do bem do outro e o afeto são três componentes essenciais da amizade. Nossa pátria é lá onde encontramos amigos. O amor de amizade é profundo, intenso, personalizado, aberto, livre.

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