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'SE CALAREM AS VOZES DOS PROFETAS AS PEDRAS FALARÃO'








sexta-feira, 30 de abril de 2010

Sede perseverante nas tribulações!

por Comunidade Shalom

O sofrimento é condição necessária para o conhecimento. Que pode dizer de si ou dos outros quem nunca conheceu a dor? Como diz o Salmista: Responde-me, Senhor, porque tua misericórdia é benevolente! (Sl 69(68),17). Jesus é puro amor e misericórdia, porque, não se prevalecendo da sua natureza divina, deixou-se passar pela cruz, sofrendo dores, difamações, humilhações na sua própria carne. Mas nem mesmo a sepultura conseguiu reter Jesus em seus braços. Abriu-se para deixá-lo sair e caminhar pelos corações dos homens. Jesus não veio para suprimir o sofrimento, mas enchê-lo de sua presença. Vinde a mim todos vós fatigados e sobrecarregados e eu vos aliviarei (Mt 11,28). Através da dor e do sofrimento, Ele deseja nos purificar e nos esvaziar de nós mesmos, para que possamos nos encher com seu amor e sua misericórdia.

É preferível à dor da purificação do que a dor da condenação. O Senhor querendo purificar uma alma, utiliza vários instrumentos. As provações mesmo sendo amargas e, às vezes, dolorosas, Deus as permite, sendo importante aceitá-las porque nos levam a maturação e crescimento espiritual. Através do sofrimento nos tornamos mais semelhantes ao Salvador, que passou primeiro pela cruz para, em seguida, ressuscitar. Através da cruz, ressuscitamos para uma vida nova. De algumas almas, Ele exige uma grande pureza, sobretudo quando tem grandes projetos para ela. No Sermão da Montanha Jesus diz: “Bem aventurados os puros de coração porque verão a Deus (Mt 5,8)”. Também nos ensina que a purificação deve começar pelo coração do homem (Mc 7,1-23).

Após uma “noite escura” virá a luz do dia com a aurora da alegria. Essa verdade foi revelada várias vezes por Jesus: Eu vim como a luz do mundo para que todo aquele que crê em mim não permaneça nas trevas (Jo 12,46). Ficareis tristes, mas vossa tristeza se converterá em alegria (Jo 16,20). Vós estais tristes agora, mas eu vos verei outra vez e vosso coração se alegrará e ninguém poderá tirar-vos a alegria (Jo 16,22). No mundo tereis aflições, mas coragem eu venci o mundo (Jo 16,33).

Diante da cruz sempre se descobre que Deus está presente dando tudo: no Corpo e no Sangue, na vida de seu Filho, despojado, sem nada. Quem come minha carne e bebe meu sangue permanece em mim e eu nele (Jo 6,56). Como o Pai me ama assim também eu vos amo. Permanecei no meu amor (Jo 15,9). O Evangelho é a luz que aponta o caminho que devemos seguir e a Eucaristia é a força que nos permite seguir este caminho. O Evangelho abrasa o nosso coração de fé e a Eucaristia abrasa o nosso coração de amor. O Evangelho transforma o nosso coração, para que Jesus Eucarístico possa habitar neste coração transformado pela Palavra.

Quão estreita é a porta e apertado o caminho que leva à vida, e poucos são os que o encontram (Mt 7,14). A porta de entrada para o Reino do Senhor é a misericórdia, quem não entra por ela não entende nada. Misericórdia é ligar-se com o coração à miséria do próximo: do pecador, do pobre e do excluído. O “próximo” é essa porta pela qual precisamos passar para encontrar e amar a Deus. A mais profunda realização humana brota da alegria de servir. E o primeiro serviço que se deve prestar ao próximo é escutá-lo. Quem não tem condições de ouvir o irmão, acaba não podendo mais ouvir o próprio Deus. A compreensão traz a fortaleza, que alimenta o espírito. Que as nossas mãos que se estendem tantas vezes para receber a Eucaristia estejam sempre estendidas para socorrer os necessitados tanto de bens materiais quanto de apoio espiritual.

Deus não é um ópio que nos atordoa, que nos perturba, que causa desordens em nosso ser. Mas, às vezes, permite que nossa vida seja desordenada para que, após a tempestade, nos dê o seu descanso, a vida plena. A vida torna-se um céu, quando se consegue alegrar-se com as coisas simples de cada dia. E essas verdadeiras alegrias da vida têm raízes profundas em um coração amoroso. Deus não é causa de angústia, mas fonte de eterna paz.

As causas de muitos sofrimentos corporais encontram-se nas profundezas da alma, sem que a pessoa tenha clara consciência disso. Por isso no período de provas, pode haver contínuas recaídas, enquanto a causa de todo o mal não tiver sido removida. Devemos assumir as nossas fraquezas e expô-las ao Senhor para que possa nos curar. Não devemos ter medo ou vergonha de apresentá-las. Quando nos conscientizamos de nossas fragilidades, a força de Cristo habita em nós. Viver a verdade é viver em harmonia consigo mesmo, em harmonia com os outros, com Deus. É viver a unidade do corpo, do pensamento e dos sentimentos. Devemos ser como crianças, que é, por excelência, um espelho de si mesma. Não tem o que ocultar, não tem o que dissimular, não tem porque amenizar as coisas.

A pior prisão é a do coração. As feridas, os traumas do passado e os apegos constituem a algema que prende os seres humanos e não os deixa seguir o caminho da perfeição. Carregamos em nosso coração o peso das situações mal resolvidas; das mágoas, dos rancores que não foram perdoados e isto constitui uma brecha para as trevas penetrarem em áreas do nosso ser e tentarem nos dominar, aproveitando-se da fraqueza humana, procuram escravizar e deprimir progressivamente a pessoa. Contudo, os altos e baixos constantes que nos atormentam, nos levam ao equilíbrio interior e ao auto-domínio. Só o perdão pode encerrar uma determinada situação, tirar dos nossos ombros um grande peso e nos tornar livres. A liberdade é uma riqueza que só valorizamos quando a perdemos. Não há mal que Deus não cure através da oração, e nem mágoa que perdure com um gesto de perdão. Através da fé, esperança, confiança e perseverança se abrem todas as janelas e portas de um coração. Deus é fiel, Ele nunca abandona e jamais trai aqueles que nele esperam e confiam. A esperança não engana, pois o amor de Deus se derramou em nossos corações pelo Espírito Santo, que nos foi dado (Rm 5,5). Quanto mais cresce o sofrimento, mais aumenta a esperança de dias melhores.

Por momentos, sente-se vontade de chorar copiosamente, como se as lágrimas lavassem a alma para a libertação e purificação. Quem confia em Deus pela fé em Jesus Cristo, acredita no amor e acredita no poder das lágrimas. Onde há fé existe amor, onde há amor existe paz, onde há paz ali está Deus e onde Deus está nada falta. Os sofrimentos da vida presente não têm comparação alguma com a glória futura que se manifestará em nós (Rm 8,18).

Nessas circunstâncias, a pessoa fica presa a si mesma sem saber como sair dessa situação. Só quem já passou por grandes tribulações sabe como é pesado e difícil cumprir com nossas obrigações quando a alma se encontra nesse estado de tormentos interiores. Desânimo, estresse e cansaço nos sufocam. As forças físicas diminuem, a mente se obscurece e a pessoa simplesmente passa a descuidar-se de si mesma, de seu físico, de sua aparência, de suas obrigações, de suas atividades, muitos não compreendem essa situação e fazem todo tipo de julgamento, achando que a pessoa é descuidada ou relaxada.

As provas interiores, exteriores tentam nos dominar. Tudo ao nosso redor parece estar de mal a pior e, acabamos nos envolvendo bastante com os problemas que surgem. Situações desagradáveis, sentimentos de perseguições, de desprezo nos circundam, e acabamos ficando presos dando voltas como em círculos em torno de nós mesmos ou de nossos problemas. Não permitamos que as dificuldades ou as “fofoquinhas” arruínem a nossa vida, nos levando ao fundo do poço. Sejamos fortes e saibamos superar os problemas ou os boatos com dignidade.

A vida é curta demais, por isso não devemos fazer dela um campo de batalha contra os nossos irmãos. Com o juízo com que julgardes, sereis também julgados; e com a medida com que tiverdes medido, também vós sereis medidos (Mt 7,2). A essência do verdadeiro amor está em aceitar os lapsos do outro. A essência de Deus é o Amor e a Vida. Quando falamos mal dos outros estamos alimentando sentimentos de inveja ou ciúmes, que se manifestam em nosso ser de forma consciente ou inconsciente. O ciúme é a arma dos inseguros, dos que ainda não aprenderam verdadeiramente a amar.

A palavra falada é como uma abelha: tem mel e tem ferrão. Que nossas palavras sejam doces como o mel e não ardentes e dolorosas como um ferrão. Que as palavras que saem da nossa boca sejam sempre construtivas. Torna-te modelo para os fiéis no modo de falar e de viver, na caridade, na fé, na castidade (1Tm 4,12). Falar bem dos outros é uma virtude, uma nobreza de caráter. Deve-se elogiar uma pessoa na sua presença apenas parcialmente, mas na sua ausência se deve fazê-lo plenamente.

No mundo de hoje, precisamos mais do que nunca reavaliar a nossa capacidade de amar. Nunca o mundo comportou tanta depressão, tanta angústia, como nos dias atuais. Quando amamos nos encontramos. Tudo é feito para se completar, para estar junto, para conviver. Nada é feito para estar só. Quem pensa somente em si, acaba ficando sozinho, sem amizades. No egoísmo, nos distanciamos do ideal para o qual fomos criados. No coração do homem existe uma profunda sede de amar e ser amado.

Nas turbulências da vida, não se deve caminhar sozinho, pois há muitos outros peregrinos em busca da mesma meta. Caminhar sozinho não é caminhar é desandar. Não se vive bem, não se vive feliz quando nos isolamos e evitamos os relacionamentos. Somos feitos para o encontro. A amizade é uma necessidade do coração humano. O amigo verdadeiro é aquele que ama e compreende o outro, sobretudo, nos momentos de dificuldade. Para vivermos essa experiência, precisamos nos deixar amadurecer mais pelo amor doado do que pelo recebido. Deus, modelo perfeito de amizade, diz em sua Palavra que há mais felicidade em dar do que em receber (At 20,35).

O Senhor repreende e educa aqueles que ama. Está sempre a bater a porta de nosso coração (Ap 3,19-20) e adiamos as coisas de Deus para amanhã, privando-as assim de toda eficácia, porque queremos fazer em primeiro lugar a nossa vontade. Ele na sua infinita misericórdia faz tudo ao seu tempo. Quando essa força superior interfere em nossa vida, quer nos mostrar que esse é o tempo favorável, não dá mais para adiar a nossa conversão, quer o nosso “sim” para que sendo fiel no mínimo possa nos confiar o máximo. Deseja um maior compromisso de nossa parte, talvez querendo curar de infidelidades, tibieza na caminhada espiritual e/ou nos elevar para um plano espiritual superior.

O ser humano não nasce pronto, nasce inacabado. Se investirmos em nosso eu interior, em nossa alma, poderemos ser seres humanos plenos. O sinal de que a nossa experiência de Luz é verdadeira, é quando ela nos permite descobrir nossa sombra. Cada situação de sombra em nosso ser, esconde uma chama divina. Através do sofrimento, Deus quer sempre nos mostrar algo, que ainda precisamos enxergar e, assim, vamos amadurecendo, nos conhecendo melhor e trilhando o caminho da perfeição, da santidade. É sinal de maturidade humana aceitar o desafio do sofrimento.

Quando se sente que o sofrimento ultrapassa as nossas forças humanas, só Deus poderá verdadeiramente nos conformar e nos aquietar. Devemos recorrer a Ele através da oração pessoal ou recebendo orações de outros irmãos, sobretudo, de ministros de cura. Se possível, procuremos permanecer em adoração ao Santíssimo Sacramento durante o tempo que for necessário para que o nosso ser seja pacificado e para nos enchermos com o seu amor.

A oração é a melhor auto-medicação para as nossas angústias e sofrimentos. Sem oração, é fácil escorregar e cair. A oração é a quietude, onde se encontra a luz, o amor e a realização maior. Aprender a orar ou orar melhor, consiste, fundamentalmente, em redescobrir o caminho que leva ao coração. A oração nos eleva a grande dignidade de conversar com o nosso Rei. Cristo é nosso Rei e nós seus súditos. Como súditos lutamos em favor do Rei. A vida de um cristão é uma luta contínua em favor do amor e do bem, a fim de combater as forças do mal e do ódio.

Devemos orar sobretudo por aqueles que nos incomodam ou que não conseguimos perdoá-los verdadeiramente. Também pedir a cura de traumas ou feridas profundas que estão enterrados no nosso coração e que passam a nos atormentar no período de tribulações. Segundo Frei Patrício Sciadini: “Através da oração, Deus vem à nossa procura no nosso esconderijo de pecado e de dor, para reiniciar conosco um diálogo que nós mesmos interrompemos”.

Oração e tribulação são ações quase antagônicas e, portanto, se manifestam de formas diferentes, enquanto a primeira nos conduz a paz, fraternidade e serenidade, a última, nos leva a inquietação, irritação, por vezes, egocentrismo, murmuração e dureza de coração, pois a palavra tribulação vem de tribologia que significa o estudo dos atritos. No entanto, como diz o Santo Padre, o sofrimento adquire um sentido misteriosamente positivo quando é vivido à luz dos planos de Deus. Nessa perspectiva, no livro de Tobias, essa mensagem é clara: “Todo aquele que vos honra tem a certeza de que sua vida, se for provada, será coroada; que depois da tribulação haverá a libertação... Após a tempestade, mandais a bonança; depois das lágrimas, derramais a alegria” (Tb 3,21-22).

O sofrimento prolongado nos causa mais angústia, pelo fato de acharmos que nossas orações não são agradáveis a Deus. Quando recebemos orações e libertações até parece que tudo volta ao normal, contudo, de repente os bombardeios interiores recidivam, às vezes, com maior intensidade. Como diz São Paulo: faz-se não o bem que quer, mas o mal que não quer. Nas tréguas, procura-se reconciliar com Deus e com os irmãos para reparar os estragos causados em nossa alma. Essas recaídas tendem a ocorrer, enquanto a raiz de todo o mal não tiver sido removida.

Em alguns momentos, o desespero quer tomar conta de nosso ser, porque mesmo procurando permanecer com Deus, parece que estamos provocando uma ira ainda maior dEle contra nós. Achamos que Deus não escuta as nossas orações, que estamos sendo rejeitados ou abandonados por Ele. Contudo é exatamente nos momentos mais difíceis, que o Senhor está mais presente em nossa vida, vem nos confortar, pedindo paciência, humildade e mansidão, visto que irá atender as nossas súplicas no tempo certo. Na maioria das vezes, não sabemos esperar as demoras do Senhor.

O Senhor nos pede paciência e perseverança nos períodos turbulentos. Através de Sua Palavra, nos exorta: Endireita o coração e sê constante; não tenhas pressa no momento da adversidade (Eclo 2,2). E Deus não fará justiça aos eleitos que clamam por Ele dia e noite, mesmo quando os fizer esperar? (Lc 18,7). Pela paciência salvareis vossas vidas (Lc 21,19). Não vamos nos intimidar com as adversidades da vida, mas nos comprometer com a transformação do mundo, ser vigilantes na oração, enquanto aguardamos uma vida nova e diferente.

Assim como as provações tendem a surgir gradativamente, as graças também tendem a acontecer paulatinamente nos anos subseqüentes às provações. As pessoas não suportariam muitas tribulações ou muitas graças de uma só vez. Após um período de provações, podemos renascer, sarar de todas as feridas, mesmo as mais profundas. Tomemos consciência de que a paz interior se consegue com o cultivo do amor e da paz nas relações humanas. O pecado já não vos dominará porque agora não estais sob a Lei e sim sob a graça (Rm 6,14). Dessa forma, o céu poderá começar aqui na terra.

Seria inútil ganharmos o mundo com nossas próprias forças se viermos perder a Deus. No entanto, somos privilegiados porque o Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido (Lc 19,10). Ele nos ama e é capaz de nos fazer santos. A santidade não é um alvo impossível. Precisamos continuamente suplicar a Luz de Deus: “Espírito Santo, tu és meu consolo, arranca-me das trevas, as trevas que são o pecado, que é o olhar tanto para mim e tão pouco para ti e para meus irmãos. Que eu possa contemplar a tua beleza, a tua pureza, a tua santidade naqueles que são criados à tua imagem e semelhança”.

Renovemos a nossa fé, ergamos nossos braços e agradeçamos ao Criador o Dom da nossa existência, porque nada foi criado em vão, muito menos a nossa vida. Às vezes, Ele nos fere com seu amor, porque caminha conosco em cada degrau de nossa vida e não somente no alto da escada.

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