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'SE CALAREM AS VOZES DOS PROFETAS AS PEDRAS FALARÃO'








terça-feira, 31 de agosto de 2010

Juntos restaurando vidas e salvando almas

Pe. Vicente, SCJ (Padre do Sagrado Coração de Jesus, faz parte da Comunidade Bethânia, fundada pelo Padre Léo, que tem como carisma o trabalho de recuperação de dependentes químicos)

Celebramos 15 anos da Comunidade Bethânia, um chamado a ser servo.

Jesus voltou para a Galiléia, com a força do Espírito, e sua fama se espalhou por toda a região. Ele ensinava nas sinagogas deles, e todos o elogiavam. Foi então a Nazaré, onde se tinha criado. Conforme seu costume, no dia de sábado, foi à sinagoga e levantou-se para fazer a leitura. Deram-lhe o livro do profeta Isaías. Abrindo o livro, encontrou o lugar onde está escrito: “O Espírito do Senhor está sobre mim, pois ele me consagrou com a unção, para anunciar a Boa Nova aos pobres: enviou-me para proclamar a libertação aos presos e, aos cegos, a recuperação da vista; para dar liberdade aos oprimidos e proclamar um ano de graça da parte do Senhor”. Depois, fechou o livro, entregou-o ao ajudante e sentou-se. Os olhos de todos, na sinagoga, estavam fixos nele” (Lucas 4, 14-20).

Esse trecho do Evangelho de Lucas narra o início da missão de Jesus. O Senhor, ao longo da vida oculta, se preparou, se encheu da força e da graça de Deus e reconheceu a Sua missão. Cristo agora se manifesta ao mundo. Aqui temos o discurso programático de Jesus, dizem os estudiosos. Mas Ele fez com que Seu discurso programático fosse cumprido até o fim.

Jesus é o ungido, esperado e isso faz a diferença. Como acontecia com os reis, Ele foi ungido para estar à frente do povo de Deus e levá-lo na direção da vontade de Deus. O poder do Espírito está sobre Ele, e Ele tem essa consciência.

Toda as vezes em que uma pessoa tem uma experiência com Deus, não é para esta [experiência] ficar guardada de uma forma intimista. Se você está, de fato, tocado pelo Espírito Santo, essa força o impele para um segundo movimento.

“O Espírito do Senhor está sobre mim, pois ele me consagrou com a unção, para anunciar a Boa Nova aos pobres: enviou-me para proclamar a libertação aos presos e, aos cegos, a recuperação da vista; para dar liberdade aos oprimidos” (Lucas 4, 18).

Jesus tem a consciência desse Espírito, mas para quê? Para anunciar o Evangelho para aqueles que estão em situação de risco, fracos, necessitados de tudo. Por isso, o primeiro movimento de quem está cheio do Espírito Santo é levar a Boa Nova a quem precisa.

Jesus, ao chegar na vida de alguém, anuncia o ano de remissão, da restauração do passado, da libertação da cegueira, da indigência, mas principalmente a remissão pela qual todos nós precisamos passar, que é uma restauração. À medida que essa graça vai acontecendo vamos nos tornando homens novos, mulheres renovadas.

“Depois, fechou o livro, entregou-o ao ajudante e sentou-se. Os olhos de todos, na sinagoga, estavam fixos nele” (Lucas 4, 20).

Jesus entrega o livro ao servo e senta-se, simbolizando que a missão d'Ele é a nossa missão, é a missão da Comunidade Bethânia, é sua missão. Bethânia 15 anos, um chamado a servir.

O padre Léo (fundador da Comunidade Bethânia) insistia que no cuidado com os filhos e filhas era preciso anunciar a eles a libertação de suas prisões, proclamar-lhes a recuperação da vista, mas principalmente proclamar a eles o tempo da remissão, da possibilidade de vida nova. Bethânia existe para lembrar a cada filho, a cada família, que o tempo da restauração chegou.

Quando você conhece a Comunidade Bethânia, você reconhece que a restauração existe. Bethânia existe para tornar presente a missão de Jesus. Para você olhar para Bethânia e perceber que a vida nova existe. Bethânia lembra que esse tempo da remissão é possível. Todos aqueles que se aproximam, sentem aos poucos a força desse carisma.
Fui visitar o túmulo do padre Léo e vi que estava escrito na lápide o seu lema sacerdotal: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu e consagrou”.

Padre Léo passou por muitos caminhos: experimentou o álcool, as drogas, uma sexualidade estragada, uma vida desnorteada, até poder fazer a experiência de um Deus vivo tocar em seu batismo. Ele reviu a sua vida à luz do Espírito Santo, e aí tudo que sua família tinha lhe ensinado veio à tona. Por isso mães e pais, não se cansem de sua missão! A grande tristeza de nossos tempos é que os pais não estão sendo pais de verdade para seus filhos.

Quando padre Léo pôde ter seu encontro com o Espírito de Deus, a unção aconteceu e ele pôde experimentar a graça de ser remido. Quem se deixa tocar pela graça de Deus vai se transformando, às vezes, leva tempo, mas o nosso tempo não é o tempo de Deus. Quando menos esperamos, a graça acontece, o que não podemos é desistir.

Quando eu conheci o padre Léo, ele já era um grande orador, dificilmente eu vá encontrar um padre tão apaixonado pela Palavra de Deus como o Léo, a pregação brotava de sua boca, mas ele ainda precisava ser lapidado pelo Espírito e não desistia de buscar isso.

O Espírito Santo não faz mágica, mas trabalha com o “material” que oferecemos a Ele. À medida que o padre Léo ia oferecendo “material”, o Espírito ia fazendo.

No ano de 1994 fui trabalhar com ele, para mim, isso foi uma dificuldade porque eu não gostava das coisas que ele gostava; mas eu fui descobrindo alguém que se deixava moldar pelo Espírito. Ele reconhecia quando errava e retomava, buscava a restauração.

Padre Léo buscava ouvir o Espírito, por isso anunciava a Palavra de Deus com destemor. Eu me lembro quando ele chegou à Canção Nova, ele olhava para o padre Jonas e via que aquele homem era diferente, era tocado pelo Espírito. O Espírito Santo trouxe o padre Léo para a Canção Nova na hora certa, para ele ser lapidado, e ele se tornou um padre muito melhor. Eu mesmo me assustei com a lapidação que foi sendo feita nele com convívio com padre Jonas, Eto e Luzia.

Por que estou dizendo isso? Porque não podemos desistir. Não podemos nos deixar ser tomados pelo espírito de medo, mas anunciarmos com ousadia, como acontecia com Léo. Precisamos novamente nos encher do Espírito Santo para que tenhamos essa coragem e assim servir.

É preciso ter criatividade e coragem. Padre Léo não tinha medo, por isso ele saía do convencional, quantos testemunhos de casais que renovaram o casamento, o encontro íntimo, através das pregações e brincadeiras dele.

Precisamos dessa ousadia na graça de Deus porque é preciso comunicar essa verdade. Deixe-se tocar pelo Espírito Santo. Isso que aconteceu com padre Léo precisa acontecer comigo e com você, porque nossos filhos estão morrendo nas bocas de fumo. Isso que aconteceu na vida do padre Léo precisa acontecer com a Comunidade Bethânia, com a Canção Nova, com cada comunidade e família.

Precisamos ter a coragem de nos deixar ser guiados pelo Espírito Santo de Deus. Tenha a coragem de deixar o seu lugar e fazer como o padre Léo fez: servir a Deus com toda prontidão, gastar a vida por aqueles que precisam. É preciso ter essa coragem e servir.

Deus quer que você se deixe tocar pelo Espírito Santo para gastar sua vida pela restauração dos outros. A sua família não vai ser restaurada se você não se encher do Espírito Santo.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Nós somos templos do Espírito de Deus

Nosso corpo é presente de Deus para ser templo de seu Santo Espírito, pois sendo seus filhos somos herdeiros e portadores da sua divindade. Por isso, cuidar de nosso corpo é cuidar deste Dom valioso que Deus nos deu. Só quem ama cuida, por isso somos convidados a amar, antes de tudo, a nós mesmos, zelar pelo nosso corpo, templo de Deus.

O Apóstolo São Paulo fala com transformadora. Nenhuma força pode superar e nem substituir o poder gerador de vida que é o amor. Segundo São Paulo, se nós falássemos todas as línguas da terra e até do céu; se tivéssemos o dom de anunciar mensagens de Deus, todo o conhecimento e toda a fé necessária para tirar as montanhas de seus lugares; se entendêssemos todos os segredos; se déssemos tudo o que temos, entregando até o nosso corpo para ser queimado, sem o amor, isso não nos adiantaria nada. Em seguida ele faz a mais bela definição do amor, que é eterno (Cf. I Cor 13, 1 – 8a)

Não basta cumprir as obrigações religiosas. É preciso deixar-se guiar pelo Espírito de Deus. E preciso contemplar a vida de Cristo, acolher o seu amor e aprender com Ele a amar a nós mesmos e amar ao próximo sem esperar nada em troca.

Uma pessoa pode se enganar pensando que está fazendo a vontade de Deus porque só freqüenta os sacramentos da Igreja e obedece a todas as leis e mandamentos. Essa foi a crítica mais contundente que Jesus fez contra os fariseus."...pagais o dízimo da hortelã, do funcho e do cominho, e desprezais o mais importante da Lei: a justiça, a misericórdia e a fidelidade.

Devíeis praticar estas coisas sem deixar aquelas" (Mt 23,23). Eles esmeravam-se no cumprimento da Lei, pagavam o dízimo até das plantas silvestres que brotavam em seus jardins, mas negligenciavam o centro da Lei: a justiça e o amor. Essa observação que Cristo faz em relação aos fariseus, deve nos ajudar a avaliar nosso posicionamento histórico frente à oferta que nos é feita da graça de Deus e o nosso modo de viver a fé.

Se não cultivarmos um amor verdadeiro, gerador de vida, a começar pelo cuidado com a própria saúde, estaremos negligenciando o Dom de Deus. E pelo cuidado com este templo, o nosso corpo, que vamos nos preparando para harmonizar a vida, num relacionamento saudável conosco, com o próximo e com Deus. Há muito o que fazer. Que tal começar hoje?

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Promessas eleitoreiras

por Comunidade Shalom

O processo das eleições de 2010 está em curso, seguindo o calendário da Justiça Eleitoral. A essa altura, faz parte da agenda dos candidatos a conquista de voto, através da operação “corpo a corpo”, junto aos eleitores, e da participação em debates, comícios e nos horários do guia eleitoral no rádio e na televisão. Todos os candidatos estão muito conscientes quanto à importância desse momento que pode favorecer ou prejudicar a sua performance perante o eleitorado. Orientados por um cuidadoso markting político, sempre se apresentam risonhos, quando fotografados ou expostos à midia.
Em campanha sob a égide da Legislação Eleitoral vigente, os candidatos estão atentos às disposições que combatem a corrupção eleitoral, uma prática muito antiga, que se revela de muitas maneiras, como a compra de votos. Como qualquer empreendimento que envolve mobilizações, uma campanha eleitoral implica elevados gastos financeiros e aí está a porta aberta para prática da corrupção, não obstante um incipiente controle da sociedade, por meio dos Comitês contra a Corrupção Eleitoral, e a aplicação de sanções, previstas na legislação, por parte de órgãos da Justiça Eleitoral. Os candidatos estão também atentos às exigências de apresentação de Ficha Limpa, perante os Tribunais, dado que, em grande escala, não há preocupação em tê-la perante a própria consciência e o eleitorado.
Nas eleições, há sempre um elemento presente na relação entre candidatos, eleitores e sociedade – as promessas de campanha. Em sua grandíssima maioria, os candidatos são exímios promesseiros. São incontáveis na história das eleições as promessas de seus candidatos, a exemplo de Odorico Paraguassu, candidato a Prefeito de Sucupira, que fez uma promessa factível, embora com intuito demagógico: “inaugurar o único cemitério da cidade, construído como a principal promessa de sua campanha para prefeito, já que, sempre que morria alguém na cidade, o corpo devia ser levado para a cidade vizinha para ser enterrado.” Mas fez também uma promessa enganosa: “Eu sou homem de uma palavra só, não sou um bivocabular. Comprometi-me inclusive a dar uma cova de graça ao eleitor que, na hora da extrema-unção, declare ter votado em mim.” Infelizmente, os Odoricos se multiplicam com suas promessas eleitoreiras.
Na verdade, há promessas factíveis e enganosas; o eleitor e a população devem exercitar sua capacidade de discernimento, identificando-as no discurso e na prática dos candidatos e, consequentemente, dando-lhes o voto de confiança ou alijando-os de suas pretensões eleitorais. O descumprimento de promessas, por parte dos candidatos, escapa aos controles legais, todavia, não deveria escapar ao juízo ético do eleitorado, durante a campanha e, sobretudo, no ato de votar. Alguma coisa já está sendo feita, visando “uma maior responsabilização pelos candidatos em relação as suas promessas durante o período eleitoral.” Há, de fato, uma responsabilidade mútua, enquanto, de sua parte, o eleitor e a população não devem deixar-se levar por promessas enganosas. “O processo eleitoral é um dos marcos da democracia moderna em que as partes se legitimam, o que infere a responsabilidade de ambos no reconhecimento por seus atos. Se levada por confiança em promessas de campanha a sociedade ver-se lograda posteriormente, torna-se passível a manifestação social e jurídica que revogue o mandato político do infiel, pois este é uma concessão e como tal pode ser revogado.”
Basicamente, o discernimento entre promessas realizáveis e enganosas está na consciência política da população e o poder de escolha está no dedo do eleitor, ao digitar na urna eleitoral o número de candidatos confiáveis. Esta é uma longa estrada a ser percorrida pela cidadania.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Eu fui abortada...

Este é o testemunho de Gianna Jessen, sobrevivente de um aborto. Se você é a favor desta prática, leia essa história e pergunte a sí mesmo se teria coragem de manter a convicção abortista diante desta mulher.


"Se o aborto é um direito das mulheres, quais são os meus direitos? Não existiam protestos feministas contra o fato dos meus direitos estarem sendo violados no dia em que a minha mãe me abortou."



A minha mãe biológica há 28 anos atrás estava convencida de que tinha direito a escolher, de que tinha direito a uma escolha que só a afetaria a ela. Porém a cada dia da minha vida eu carrego as conseqüências da sua escolha.

A minha mãe biológica estava grávida de sete meses e meio quando decidiu abortar-me. Não sei porque é que ela tomou essa decisão. Estávamos em 1977. Ela e o meu pai biológico tinham 17 anos na altura e não estavam casados. Ela decidiu me abortar numa clinica de Los Angeles e realizou um aborto salino. Uma solução com sal é injetada no ventre materno de modo que o bebê possa ingerir o líquido salino, queimado-o por dentro e por fora. Nesse tipo de aborto o bebê é expelido morto em 24 horas, mas eu sobrevivi.

O abortista não estava de serviço quando eu vim ao mundo porque se isso tivesse acontecido, ele teria me estrangulado, algo que era considerado perfeitamente legal até 2002.

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A única pessoa preocupada comigo foi a enfermeira. Ela chamou uma ambulância e fui transportada para o hospital. Fui colocada numa incubadora. Não se esperava que eu sobrevivesse.

Porém sobrevivi.
Devido a ausência de oxigênio por 18 horas e o fato de ter sido queimada viva no ventre da minha mãe, fiquei com sérios problemas. Não conseguia me mover e os médicos afirmavam que eu iria viver num estado vegetativo para o resto da vida.

A minha mãe adotiva - Penny - decidiu que não obstante aquilo que os médicos afirmavam, ela tentaria recuperar-me.

Com 3 anos e meio comecei a conseguir a andar. Foi quando a filha de Penny me adotou.
Tenho 28 anos e trabalho com musica em Nashville, Tennesse. Ainda coxeio e por vezes caio, mas mesmo assim já participei de uma maratona e irei participar novamente em outra em Londres, para jovens deficientes.
A minha mãe adotiva falou-me do meu passado.
Sempre senti que havia algo que faltava contar. Perguntava-lhe muitas vezes porque tinha problemas e ela respondia-me que eu havia nascido prematura.


Aos 12 anos perguntei-lhe de novo e ela disse-me o que havia acontecido. Eu respondi que tinha este problema devido a um fato interessante. A minha mãe adotiva disse-me que eu em vez de ficar amargurada deveria alegrar-me por ter sobrevivido.

Quando eu tinha 17 anos a minha mãe adotiva encontrou-se com a minha mãe biológica e disse-lhe que eu a perdoava. Sou cristã. Acredito que a revolta nos pode consumir a vida.

A minha mãe adotiva amou-me tanto que eu não sinto necessidade de me encontrar com a minha mãe biológica.
Não sei muito do que se passou no encontro entre elas. Só sei que a minha mãe biológica não pediu perdão e fez outro aborto depois do meu.
Comecei a falar contra o aborto quando tinha 14 anos e na terça feira falarei na câmara dos comuns.



Eu penso que é importante mostrar o que aconteceu comigo não só para mostrar a verdade do aborto, mas também para mostrar as potencialidades que cada um de nós tem dentro de si.

Não creio que o assassinato seja um direito. Sou completamente contra o aborto, em qualquer circunstância, mesmo em casos de violação.

Embora a violação seja um crime horroroso não deve ser a criança a pagar por esse crime. De fato encontrei-me com pessoas produto de violações e elas estão gratas por estar vivas.
Se o aborto é um direito das mulheres quais são os meus direitos?
Não existiam protestos feministas contra o fato dos meus direitos serem violados no dia em que fui queimada viva.
Todos os dias agradeço a Deus.

Não me considero um monte de células nem nenhum dos nomes que se costumam dar ao que a mulher carrega no seu ventre.



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Hoje um bebê é um bebê quando isso convém.

Mas quando não convém, quando não chega no momento certo, é chamado de um monte de células.

Um bebê é chamado de bebê quando um aborto não provocado ocorre aos 2 ,3 ou 4 meses.

Eu não vejo diferença entre os 2.
Acredito que sou prova viva de que o aborto é o assassinato de um ser humano.

A minha mãe biológica há 28 anos atrás estava convencida de que tinha direito a escolher, de que tinha direito a uma escolha que só a afetaria a ela. Porém em cada dia da minha vida eu carrego as conseqüências da sua escolha.

Embora eu nada tenha contra ela, acho importante as pessoas refletirem antes de tomarem determinadas decisões.





Fonte: Veritatis

terça-feira, 24 de agosto de 2010

"Só Deus basta. Quem encontrou a Deus, encontrou tudo",

por PAPA Bento XVI

O homem sabe que não pode satisfazer sozinho as suas próprias necessidades. Enquanto permanece na ilusão da autossuficiência, experimenta que não pode bastar a si mesmo. Tem necessidade de se abrir ao outro, a algo ou alguém que possa dar a ele o que lhe falta. Deve, por assim dizer, sair para fora de si mesmo, em direção ao que seja capaz de preencher a amplitude de seu desejo.

Como o título do Meeting destaca, nem tudo é o objetivo final do coração humano, mas somente as " grandes coisas". O homem é frequentamente tentado a se apegar às pequenas coisas, àquelas que dão uma satisfação e um prazer "barato", àquelas que satisfazem por um momento, coisas tanto fáceis de obter quanto, em última instância, ilusórias. No relato evangélico das tentações de Jesus (cf. Mt 4,1-4), o diabo insinua o que seja o "pão", isto é, a satisfação material para satisfazer o homem. Essa é uma mentira perigosa, porque contém somente uma parte da verdade. O homem, de fato, vive também do pão, mas não somente do pão. A resposta de Jesus revela a falsidade última dessa posição: "Nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus" (Mat 4,4). Só Deus basta. Somente Ele satisfaz a fome mais profunda do homem. Quem encontrou a Deus, encontrou tudo. As coisas finitas podem dar vislumbres de satisfação ou alegria, mas somente o Infinito pode preencher o coração humano: "inquietum est cor nostrum, donec requiescat in te - nosso coração está inquieto enquanto não repousa em Ti " (Santo Agostinho, Confissões, I, 1). O homem, no fundo, precisa apenas de uma coisa que contém tudo, mas primeiro deve aprender a reconhecer, também através de seus desejos e anseios superficiais, aquilo que realmente necessita, aquilo que verdadeiramente deseja, aquilo que é capaz de satisfazer a capacidade do próprio coração.

Deus veio ao mundo para despertar em nós a sede das "grandes coisas". Isso é evidente naquela passagem evangélica da riqueza inesgotável, que narra o encontro de Jesus com a mulher samaritana (cf. Jo 4, 5-42), de que Santo Agostinho nos deixou um comentário brilhante. A mulher samaritana vivia a insatisfação existencial, de quem ainda não encontrou aquilo que procura: havia tido "cinco maridos" e, naquele momento, convivia com outro homem. Aquela mulher, como fazia habitualmente, havia ido buscar água no poço de Jacó e encontrou Jesus, sentado, "cansado da viagem", no calor do meio-dia. Após lhe ter convidado para beber, é o próprio Jesus quem lhe oferece daquela água, e não qualquer uma, mas uma "água viva", capaz de saciar a sua sede. E assim ele ganhava espaço "pouco a pouco [...] no coração dela" (Santo Agostinho, Comentário ao Evangelho de João, XV, 12), fazendo surgir o desejo de algo mais profundo que a simples necessidade de satisfazer a sede material. Santo Agostinho comenta: "Aquele que pedia para beber, tinha sede da fé daquela mulher" (Ibid., XV, 11). Deus tem sede da nossa sede por Ele. O Espírito Santo, simbolizado pela "água viva" de que falava Jesus, é exatamente aquele poder vital que sacia a sede mais profunda do homem e lhe dá a vida total, aquela vida que ele busca e espera sem saber. A samaritana, em seguida, deixou o cântaro no chão, do qual "já não precisava mais, e certamente se tornara um fardo: estava ansiosa agora para beber somente daquela água" (Ibid., XV, 30).

Também os discípulos de Emaús viveram frente a Jesus a mesma experiência. É também o Senhor quem faz "queimar o coração" dos dois, enquanto caminhavam "com o rosto triste" (cf. Lc 24, 13-35). Apesar de não reconhecer Jesus ressuscitado, durante o trajeto feito juntamente com ele, eles sentiram o coração "arder no peito", retomar a vida, de modo que, ao chegarem a casa, "insistiram" para que permanecesse com eles. "Fica conosco, Senhor": é a expressão do desejo que pulsa no coração de todo o ser humano. Esse desejo de "coisas grandes" deve se transformar em oração. Os Padres sustentavam que rezar não é outra coisa senão o anseio de se transformar em um só com o Senhor. Em um belíssimo texto, Santo Agostinho define a oração como expressão do desejo e afirma que Deus responde alargando o nosso coração em relação a Ele: "Deus [...] suscitando em nós o desejo, expande a nossa alma; e expandindo a nossa alma, a torna capaz de acolhê-lo" (Comentário à Primeira Carta de João, IV, 6). De nossa parte, devemos purificar nossos desejos e nossas esperanças para acolher a doçura de Deus. "Esta – continua Santo Agostinho - é a nossa vida: exercitar-se no desejo" (Ibid.). Orar a Deus é um caminho, uma escada: é um processo de purificação dos nossos pensamentos, dos nossos desejos. A Deus, podemos pedir qualquer coisa. Tudo aquilo que seja bom. A bondade e o poder de Deus não conhecem limites entre as coisas grandes e pequenas, entre coisas materiais e espirituais, entre coisas terrenas e celestes. No diálogo com Ele, levando toda a nossa vida diante de seus olhos, aprendemos a desejar as coisas boas, a desejar, no fundo, o próprio Deus. Diz-se que, em um dos seus momentos de oração, Santo Tomás de Aquino sentiu o Senhor crucificado lhe dizer: "Tens escrito bem sobre mim, Tomás; o que queres?". "Nada além de Ti", foi a resposta do Santo Doutor. "Nada além de Ti". Aprender a rezar é aprender a desejar, e, assim, aprender a viver.

A cinco anos depois da morte de monsenhor Luigi Giussani, o Sumo Pontífice une-se espiritualmente aos membros do Movimento de Comunhão e Libertação. Como ele pôde recordar durante a Audiência na Praça de São Pedro, em 24 de março de 2007, "monsenhor Giussani comprometeu-se a despertar nos jovens o amor a Cristo 'Caminho, Verdade e Vida', repetindo que só Ele é o caminho para a realização dos desejos mais profundos do coração do homem".

Ao confiar aos participantes do Meeting essas reflexões, esperando que ajudem a conhecer, encontrar e amar sempre mais o Senhor e testemunhar no nosso tempo que as "grandes coisas" que desejam o coração humano encontram-se em Deus, Sua Santidade Bento XVI assegura a Sua oração e de bom grado envia a Vossa Excelência, aos responsáveis e organizadores e a todos os presentes a Bênção Apostólica.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Deus quer que sejamos católicos de qualidade

por Pe. Roger Luis - Canção Nova

Deus nos presenteia com esta liturgia da vigésima primeira semana do tempo comum e eu o convido a proclamar um versículo do salmo: “Pois comprovado é o seu amor para conosco, para sempre Ele é fiel!” O amor do Pai é revelado no seu Filho, e hoje o Evangelho de São Lucas nos revela esta caminhada que Jesus fez para chegar até Jerusalém, onde Ele nos dá a sua vida, por amor a nós.

Nesses dias estivemos aqui recebendo de Deus este ensinamento, é isso que Jesus faz com seus discípulos, os ensina enquanto sobem para Jerusalém, este caminho é onde Ele vai entregar a sua vida livremente, não coloca nenhuma resistência, mas se entrega por amor a nós, porque Ele é fiel.

Jesus sobe a Jerusalém e experimenta a dor abraçando a cruz, mas depois desta experiência de estar por três dias no sepulcro, Ele ressuscita, recebendo do Pai a vida plena. Esta é a experiência que temos de fazer, porque depois da cruz vem a nossa ressurreição. São lucas também narra a subida de Jesus ao céu, mas não temos como alcançar o céu sem antes passarmos pela experiência da cruz, e você ressuscitará com Cristo no dia final, não negue a cruz, ela faz parte do caminho e faz parte da vida do cristão combatente.

Deus tem o céu para nós e o melhor de Deus ainda está por vir, nós ainda não vivemos o melhor. O nosso lugar é o céu e não vamos desistir diante da cruz do dia a dia. Porque lá no céu vai ser alegria e realização plena.

Jesus percebeu que os discípulos estavam curiosos, jogando verde para colher maduro, para saber sobre a salvação. E Jesus muito inteligente não responde mas diz: “Fazei todo esforço para entrar pela porta estreita” A porta é estreita e nós precisamos passar por ela, o nosso chamado não é de facilidades, mas de lutas e combates que vamos passar no nosso dia a dia, e precisa existir o esforço da nossa parte para alcançarmos o céu. O Senhor já conquistou a salvação para nós, mas precisamos lutar, e dependemos totalmente da graça de Deus para sermos salvos, mas é preciso colaborar com a graça para fazermos esta experiencia de céu.
Jesus não esta preocupado com quantidade mas com a qualidade. Então nos perguntemos: “Que qualidade de católico estamos sendo? A porta é estreita e não podemos dar contratestemunho, não podemos brincar com Deus.

É preciso passar pelo esforço, assim como uma criança que precisa se esforçar para nascer. Quem é a mãe que está nos gerando para o céu? É a Igreja. Por isso ela ensina o que é certo, a verdade. A salvação é graça de Deus mas hoje o próprio Jesus está nos dizendo: "Fazei todo o esforço".

É preciso ser fiel nas pequenas coisas, deixar que o Espírito Santo nos revele o que temos feito de errado. Por isso a segunda leitura nos diz: Qual é o filho no qual o Pai não corrige? Quem ama mais? O pai que corrige ou aquele que passa a mão na cabeça?

Deus quer que sejamos católicos de qualidade, que as pessoas vejam em nós um testemunho coerente de quem abraçou a fé, e cristãos que vivem uma vida como aqueles que vivem longe de Deus. A misericórdia de Deus exige de nós mudança de vida. Não confie nessa misericórdia falsa, porque a que vem do Senhor causa em nós reação e conversão. A salvação de Deus é para todos.
Na Canção Nova não se prega meia verdade, pregamos verdade inteira. Aqui é um lugar onde acontece muito trabalho de parto, para que muitas pessoas possam nascer para uma vida nova, renunciando a vida velha e entrar pela porta estreita.

Jesus quer que olhemos para o hoje, como estamos nos posicionando em relação a Jesus. Muitas vezes somos prepotentes, e por isso a porta vai se tornando cada vez mais estreita, porque vamos nos enchendo de nós mesmos. Mas é preciso nascer hoje para a vida nova. Sejamos justo, porque Deus é justiça, misericórdia e amor.

sábado, 21 de agosto de 2010

Viver o profetismo na esperança

Nós estamos diante do profeta Ezequiel, um homem que foi dócil àquilo que hoje mais precisamos viver na nossa Igreja, que é sermos verdadeiros profetas. Precisamos ter coragem de profetizar na vida dos nossos irmãos e na nossa.

Na frente de Ezequiel tinha apenas ossos, não tinha vida, aparentemente esta visão é assustadora, ossos e silêncio, ali a morte era predominante e não havia esperança. Mas o profeta é convidado a andar em meio a esses ossos para comprovar que ali não tinha vida, somente ossos ressequidos. Esta visão é aplicada ao povo de Israel que estavam como cadáveres, porque era um povo que tinha vivido no exílio e precisava ser ressuscitado. O profeta precisava mostrar ao povo que a esperança não tinha morrido.

O problema da nossa humanidade é a falta de esperança, as pessoas a estão perdendo e perdendo a esperança se perde a fé e a alegria. Não estamos dizendo para vivermos só a gloria, porque problemas sempre o teremos, mas precisamos ter esperança. Não perca a esperança e eu profetizo na sua vida, a partir de hoje uma vida nova e cheia de esperança.

O profeta foi fiel e dócil a Palavra de Deus e nós também precisamos ser doceis, termos coragem de profetizar sobre as nossas casas. Então se na sua casa existe pessoas ressequidas, profetize Palavras de benção sobre esta pessoa, chega de palavras de maldição.

No combate que vivemos, o inimigo quer fazer-nos viver a covardia, o respeito humano, mas hoje, nesse tempo precisamos profetizar a verdade e recomeçar, não contemplando o passado, mas viver a esperança hoje. O grande problema é que muitas vezes estamos sentados e precisamos ir á luta, não podemos querer as coisas prontas.

Para que aqueles ossos ressuscitassem, foi preciso que profeta profetizasse sobre eles. Os seus problemas não vão acabar, mas basta que você peça o Espírito Santo e que vivamos a de verdade da nossa fé, sermos católicos praticantes e fervorosos.

Nós precisamos viver um profetismo fervoroso sim, não sem dificuldades, e mentiroso aquele que lhe oferecer um catolicismo sem sofrimento, mas é preciso sermos de Deus, profetizando, sendo doceis a escuta da vontade do Senhor. Os barulhos e situações tem tentado calar a nossa voz.

Precisamos entrar em combate, e a nossa luta não é contra homens de carne mas espiritual. E porque somos um povo que está se preparando para a segunda vida do Senhor, então precisamos nos perguntar: Como estou vivendo a minha vida?

A nossa vida é uma passagem, uma pascoa e problema sempre teremos, não significa que não teremos alegria, mas a nossa alegria definitiva está no céu. Para chegar lá é preciso enfrentar o bom combate. Chega de ficarmos calados.
Nós precisamos recomeçar, precisamos de vida nova, mas isso só vai acontecer se assumirmos Jesus Cristo cem por cento, porque os mornos serão vomitados. Precisamos ser quentes no Espírito Santo, e mesmo que os problemas vierem bater à nossa porta, vamos olhar para Deus Pai que nos deu o seu único Filho porque nos ama.

Em nome de Jesus eu profetizo sobre a sua vida hoje uma vida nova. Ma é preciso reagir, façamos a nossa parte. Queremos que Deus faça, mas é preciso que façamos a nossa parte, viver a esperança, a alegria e voltarmos a profetizar. As armas da nossa batalha é a oração, a Palavra de Deus, a Virgem Maria, a confissão e a Eucaristia. Com certeza estas armas nos dará a vitória. Por maior que seja o seu problema Deus é muito maior, basta que você viva esta esperança com determinação. Vamos a luta! Viver estas praticas de oração diária. Assuma a Palavra de Deus e tenha esperança.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

“Mas descerá sobre vós o Espírito Santo e vos dará força...” (At. 1,8)

Deus, que não cessa de manifestar seu amor por nós, após haver morrido numa cruz e ressuscitado ao terceiro dia para nos salvar e nos dar novamente acesso ao céu, ainda promete e derrama o Espírito Santo sobre todos nós como um outro Paráclito (defensor, advogado, intercessor), para que fique eternamente conosco (conf. Jo. 14, 16-17). Lemos no Livro dos Atos dos Apóstolos que o derramamento do Espírito Santo tem um propósito bem definido: dar-nos força! Assim, o Senhor não derrama o seu Espírito apenas para que tenhamos um bem-estar, uma sensação boa, um toque nas emoções; ao contrário, desse derramamento advém algo novo, uma revolução, ou melhor, uma renovação acontece em nossas vidas. “Mas descerá sobre vós o Espírito Santo e vos dará força...” Força para quê? Consigo identificar pelo menos seis significados para o termo “força”.



O Espírito Santo nos dá força para perseguirmos a santidade, ou seja, força para assumirmos a Salvação. O Espírito nos impele a retomarmos nossa dignidade de filhos de Deus, vivermos como homens e mulheres resgatados, libertos do pecado, verdadeiramente livres da escravidão. Ser santo, pois, significa buscar as coisas lá do alto (conf. Col. 3, 1), tomar posse da vida nova dada por Cristo, fazer adesão pessoal à Pessoa de Jesus como Senhor Absoluto de nossas vidas. É, ainda, nossa resposta amorosa ao Amor de Deus. Ser santo significa viver em verdadeira liberdade, aquela segundo a vontade de Deus. É procurar ser como Jesus em todas as áreas de nossa vida: no casamento, no namoro, em família, na vida profissional, no lazer, nas conversas, nos pensamentos, nos olhares, nas atitudes... Evangelizar com a vida. É estar em profunda comunhão com a Santíssima Trindade. Pentecostes, antes de ser derramamento de carismas, é dom de santidade. Uma santidade entranhada, interior, provocada pelo convencimento do Espírito Santo acerca do pecado (conf. Jo. 16, 8), e não meramente comportamental ou moralista. Ninguém pode se tornar santo, a não ser pela ação do Espírito Santo.



Esta “força” que vem do alto também deve ser vista – e este é o segundo significado – como um impulso, uma disposição para deixar-se converter interiormente, deixar o Espírito Santo mudar a mentalidade. Não podemos ser pessoas fechadas a mudanças. Devemos deixar que o poder do Espírito aja nas diversas áreas do nosso coração e da nossa mente, sempre mais. Ele quer tocar e equilibrar nossas emoções, nossos sentimentos, nosso temperamento, nossas ideologias, nosso modo de pensar, nossos conceitos. É precisamente um trabalho interior criterioso e muitas vezes doloroso. Esta obra gera em nós um progresso espiritual fecundo, uma ascese, vamos tomando a forma da porta estreita, que é Jesus. O maior milagre que o Espírito Santo pode realizar é a nossa conversão interior, pois isso envolve a nossa liberdade de escolha, nosso livre arbítrio. O mais bonito da Festa de Pentecostes narrada nas Escrituras foi a conversão dos apóstolos.



O Espírito Santo nos dá “força” para buscarmos uma vida de oração e de vivência da Palavra de Deus. Deus tem sede de que nós tenhamos sede d’Ele. Assim, a oração é o encontro amoroso dessas duas sedes, é o momento de intimidade com o Senhor, “é a elevação da alma a Deus” (S. João Damasceno), é momento de diálogo com o Deus de Amor, que se nos revela. O Espírito nos impulsiona a esta nova perspectiva, a da penetração espiritual, da intimidade com o Senhor. Se queremos caminhar em segurança precisamos escutar a voz do Pastor e não nos deixarmos levar por outras vozes (conf. Jo.10, 14). Ora, como reconheceremos a voz do Pastor, senão através de uma vida de intensa oração? O Espírito Santo nos transforma em verdadeiros adoradores. O Livro do Êxodo nos diz que Moisés se entretinha com Deus na tenda e saía de lá com a face brilhando. Também nós precisamos irradiar a glória de Deus no mundo a partir da nossa profunda intimidade com Ele. Além disso, Deus fala conosco e nos ensina pela Sua Palavra. A Bíblia é luz para guiar nossos passos, não nos deixa sem rumo ou direção. Aquele que conhece e vive a Palavra de Deus não sai da estrada. Lembremo-nos de que Jesus venceu Satanás no deserto pelo poder da Palavra. A Palavra de Deus forma a consciência cristã e torna-nos aptos para toda boa obra. É o Espírito Santo que nos dá a compreensão e o profundo gosto pela Palavra de Deus; ao mesmo tempo, também por ela, vai restaurando em nós a imagem e semelhança com o Criador.



Um outro aspecto do termo “força” é, precisamente, uma coragem madura para renunciar a si mesmo, tomar a sua cruz e seguir Jesus. O cristão só é autêntico se juntar-se à morte de Cristo. Trata-se de uma dimensão do martírio que é a doação livre da vida pela causa de Cristo e do Evangelho. Isto significa também morrer para si mesmo (planos, projetos, honras, glórias, cargos, orgulho próprio, falsas seguranças, manias pessoais, individualismo, competições, prepotência, falsa superioridade, etc). Morrer para si mesmo sendo perseguido, humilhado, injustiçado, caluniado, ferido. Morrer para si mesmo significa ter como meta a vontade do Senhor e doar-se inteiramente ao outro, fazer-se tudo para todos, não fugir dos problemas e das aflições; ao contrário, abraçar a cruz com louvor, esperança e muita fé. Não faço aqui qualquer apologia ao sofrimento humano; todavia, este é inevitável em nossa vida e serve como meio para nossa purificação e crescimento espiritual. Certa vez ouvi de um Padre: “do madeiro da cruz sai o óleo da Unção (de poder, de vitória, de alegria interior, de paz, de autoridade espiritual)!” Lembro-me, ainda, de um dos sensacionais livros do querido Padre Jorge Tadeu Hermes, “Não Jogue Fora Suas Lágrimas!” Cristianismo sem cruz é falso! Engana-se aquele que procura falsos alívios da cruz em doutrinas sem qualquer fundamento cristão sério. “Em Deus ninguém entra de um modo correto, a não ser via o Crucificado” (São Boaventura). Por obra do Espírito Santo, temos um impulso sobrenatural para suportar a cruz com louvor e amor. Os primeiros cristãos, ao serem presos, cantavam louvores ao Senhor enquanto eram jogados na arena para servirem de alimento para os leões. Esses louvores assombravam o Imperador e sua Coorte.



Deus derrama seu Espírito sobre nós dando-nos “força” para vivermos em comunidade. O homem que se isola é infeliz, pois somente se completa em seu semelhante. O Espírito Santo nos capacita para um relacionamento autenticamente cristão com as pessoas ao nosso redor. Impulsiona-nos a nos decidirmos pelo amor ao outro, pela entrega de si ao próximo. A medida desse amor é a mesma de Cristo: um amor incondicional, até às últimas conseqüências, um amor que não faz distinção de pessoas, que acolhe, que perdoa, que aceita o outro como ele é, um amor maduro e decidido, que respeita o limite do outro, que é solidário. Comunidade, antes de se fazer, é um jeito de ser. A Igreja é uma grande comunidade, chamada à excelência neste projeto do coração de Deus. Se queremos uma transformação em nossa sociedade, precisamos, antes, transformar nossas relações dentro de nossas casas, nos locais de trabalho, na vizinhança, nos nossos Grupos de Oração, na Paróquia, na rua, na Universidade. Ser comunidade, ao contrário do que se pensa, não é fácil. Requer muito amor, decisão, compromisso, perseverança, doação, humildade, dedicação, abertura, capacidade de perdoar. Precisamos fazer a nossa parte estando certos de que o Espírito Santo nos ajuda. Que nossas famílias sejam autênticas comunidades cristãs a irradiarem a glória de Deus para o mundo. Celebrando Pentecostes em família!!!



O sexto e último significado do termo “força” que nos propomos a tratar aqui é: O Espírito Santo nos dá “força” para sermos missionários-carismáticos. O derramamento do Espírito Santo recebido no Sacramento do Batismo e trazido à nossa consciência pela experiência da Efusão do Espírito Santo nos impulsiona à missão, a expandir o Reino de Deus neste mundo. Para isso, Ele nos dota de carismas, que são dons de serviço, dons para a edificação da Igreja. A partir do momento em que somos discípulos – aqueles que fazem a experiência de Deus, que escutam a voz do Mestre, que têm intimidade com Ele –, podemos ser apóstolos, missionários enviados por Deus aos confins do mundo. A este propósito, precisamos refletir sobre o seguinte: estamos exercendo os carismas de forma responsável? Os estamos exercendo, de fato, no poder do Espírito? Precisamos afastar para longe de nós a banalização dos carismas, o puro emocionalismo, a imitação, a falta de discernimento, a imprudência, a falta de zelo. Por outro lado, não podemos enterrá-los, enquadrá-los em espécies de formas; daí a importância de se buscar a formação constantemente.



Somente assim seremos “testemunhas em Jerusalém, Judéia, Samaria e até os confins do mundo (At. 1, 8b)”. E Jerusalém, Judéia, Samaria e os confins do mundo são o nosso lar, a nossa família, os nossos vizinhos, os colegas de trabalho, os desafetos, os irmãos de caminhada e todos aqueles que de alguma forma tivermos contato. Oportunidades para sermos testemunhas de Cristo não nos faltam!

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Se você desistiu de tudo, volte depressa!

por Mons. Jonas Abib

Se nos entregamos aos problemas, damos brecha às divisões, à fofoca e anulamos a ação e a força do Espírito Santo em nós. Os problemas existem e devem ser enfrentados. Mas não podemos ficar parados neles. Precisamos ter em mente que estamos numa obra de Deus e não de homens. Foi o Senhor quem nos chamou e nos dá a garantia:

“Eu, hoje, faço de ti uma fortaleza, uma coluna de ferro, uma muralha de bronze, ante toda esta terra, ante os reis de Judá, seus ministros, seus sacerdotes e sua milícia: Eles lutarão contra ti, mas sem resultado: eu estou contigo – oráculo do Senhor – para te libertar” (Jr 1,18-19).

O Senhor investiu muito em nós, agora está nos convocando de novo. Se você desistiu de tudo, volte depressa!

Deus Pai chama de volta todos aqueles que se afastaram. Todos os que já trabalharam conosco, e os que já trabalharam em outros movimentos da Igreja. Os que pregavam, os que davam testemunhos, aqueles que com seus trabalhos, suas orações, arrastavam as redes repletas de peixes... Todos são chamados de volta! Por mil motivos, muitos deles voltaram para “o mar da vida”, mas estão marcados: são do Senhor. São apóstolos. São pescadores de homens. É preciso buscá-los, repescá-los sem medo.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Senhor, ensina-nos a rezar

por Cardeal Odilo Sherer

O jeito de crer aparece no jeito de rezar

O que significa rezar? É importante rezar? Vale a pena? Como rezar? Estas e outras perguntas sobre a oração estiveram no centro da Liturgia da Palavra do domingo passado. E poderíamos continuar a perguntar: qual é o lugar da oração na vida cristã? É preciso rezar, mesmo com tanta coisa para fazer? Vale mais a oração ou a ação?


Uma coisa é certa: Jesus rezava, como nos atestam os Evangelhos. Passava até noites inteiras em oração, a sós com Deus (cf. Lc 6,12); os apóstolos também rezavam enquanto esperavam, com Maria, a Mãe de Jesus, a vinda do Espírito Santo (cf. At 1,22); os primeiros cristãos "eram perseverantes na oração" (cf. At 2,42); muitas vezes, São Paulo rezava e recomendava a oração aos fiéis em suas cartas (cf Ef 1,16; Fl 1,4; Rm 12,12; Cl 4,2). Inegavelmente, a oração faz parte da vida cristã, desde a pregação de Jesus e dos apóstolos e já nos primórdios da Igreja. E ao longo de toda a história da Igreja, a oração é uma das expressões mais evidentes da fé e da vida eclesial. Cristão reza; e quem não reza, deixa de lado um aspecto importante da vida cristã.


Ver Cristo rezando impressionava muito os discípulos, tanto que um deles lhe pediu: “Senhor, ensina-nos a rezar, como também João ensinou a seus discípulos” (Lc 11,1). Era costume que os “mestres” ensinassem a oração aos discípulos. E ainda hoje isso é parte da missão de quem deve ser “mestre na fé” para seus irmãos – sacerdotes, pastores de almas, catequistas. Aqui já está um dos significados da oração: É traduzir em atitudes aquilo que se aprendeu sobre Deus e a fé: rezar é passar do crer intelectual ao relacionar-se com Deus. Para saber se alguém tem fé, e que tipo de fé, basta observar se reza e como reza. Por isso é bem justificada a afirmação: lex credendi, lex orandi” – o jeito de crer aparece no jeito de rezar e a oração é expressão do jeito de crer.


Há muitos modos de rezar e também hoje há muitos "mestres de oração". São todos igualmente bons? Jesus já desaconselhava a oração “dos hipócritas”, que são falsos (cf. Mt 6,5) e rezam apenas com os lábios, mas cujo coração está longe de Deus (cf. Mc 7,6); e também pede que não rezemos como os pagãos, que pensam poder convencer Deus com muitas palavras (cf. Mt 6,7). Em vez disso, ensina o Pai-Nosso (cf. Mt 6,9-15; Lc 11,2-4). O cristão deve aprender a rezar de Jesus, cuja oração é “falar com o Pai”.


Em nossa oração não nos dirigimos a Deus de maneira abstrata, como se o Altíssimo fosse uma energia que pode ser capturada com palavras ou ritos mágicos; nem invocamos um poder impessoal com o fim de direcioná-lo e de obter os benefícios desejados... Nossa oração tem base na graça recebida no Batismo, pela qual fomos acolhidos por Deus como filhos (“filhos no Filho”) e recebemos o Espírito Santo, que nos ajuda a rezar como convém (cf. Rm 8,26-27). Como Nosso Senhor Jesus Cristo, também nós podemos dirigir-nos a Deus, como os filhos se dirigem ao pai, com toda confiança e simplicidade. É belo pensar que não somos estranhos a Deus, nem Deus é estranho a nós; somos da “família de Deus”, a quem nos dirigimos com toda familiaridade. Por isso, nossa oração se traduz em profissão de fé, adoração, louvor, narração das maravilhas de Deus, agradecimento, súplica, desabafo na angústia, pedido de perdão, intercessão pelos outros... Filhos amados pelo pai e que lhe dedicam amor filial podem achegar-se ao colo do genitor, falar-lhe livremente, chorar no seu ombro, sentir-se abraçados e envolvidos de ternura, até sem dizer uma palavra...


Naturalmente, não tenho a pretensão de dizer tudo sobre a oração cristã nestes poucos parágrafos... Resta ainda falar da beleza e importância da oração litúrgica, quando não rezamos sozinhos, mas, como comunidade de fé, nos unimos a Cristo Sacerdote, que reza conosco e por nós diante do Pai. É prece de valor infinito, pois é perfeita a oração do Filho e são infinitos os méritos de Sua santa Encarnação, Sua Vida, Paixão e Ressurreição. Por isso, a Igreja recomenda, com tanta insistência, a participação na oração litúrgica, especialmente na Santa Missa dominical

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Vencendo as barreiras nos relacionamentos

por Comunidade Canção Nova

Muitas vezes, preferiríamos viver numa ilha, isolados de tudo


Se não tivéssemos aprendido um pouco sobre a metamorfose das borboletas, sequer poderíamos imaginar que o mesmo inseto que esvoaça entre flores tenha sido uma asquerosa lagarta, a qual semanas antes estava rastejando pelo mesmo jardim.

Foram necessários interesse e maturidade para estudar o delicado comportamento dessas lagartas, do contrário, teríamos nos empenhado no extermínio daquelas devoradoras de plantas e erradicaríamos da natureza a beleza colorida que vivifica os bosques. Uma dedicação semelhante se faz necessária para cada um de nós quando a questão envolve vidas e diferenças de comportamentos.


Como seria fácil se, para o nosso convívio diário, – diante das divergências e na tentativa de convencer alguém sobre uma determinada opinião – pudéssemos inserir um cartão de memória pré-programada para obter os resultados esperados, como fazemos em máquinas… Ou ainda, não estando satisfeitos com as atitudes e procedimentos de alguém, simplesmente cortássemos o contato com ele, como podamos os ramos de uma árvore em nosso jardim.


Por diversas vezes já tivemos vontade de “abrir” a cabeça de alguém e fazer com que ele entendesse o nosso pensamento para que vivesse a nossa vontade. Entretanto, bem sabemos que, diante de tais desafios, muitas vezes, tomamos atitudes enérgicas, apoiadas em nosso autoritarismo. Se assim agirmos, estaremos sufocando a “metamorfose” na vida daqueles que ainda precisarão atingir o próprio amadurecimento, tal como ocorre com as borboletas.


Quem se abre aos relacionamentos deverá estar sempre disposto a resgatar a saúde do convívio, mesmo quando inúmeras situações indicarem a facilidade da fuga como válvula de escape. É verdade que somente nos desentendemos com aqueles com os quais realmente convivemos e, de maneira especial, quando as coisas não vêm ao encontro das nossas cômodas intenções. Muitas vezes, preferiríamos viver numa ilha, isolados de tudo e de todos, especialmente quando experimentamos as asperezas dos desentendimentos, comuns e pertinentes às nossas amizades. Em outras ocasiões, surge até o desejo de pegar um dos nossos amigos pelo pescoço, chacoalhá-lo e jogá-lo contra a parede. Certamente, tal vontade tem de ser controlada, já que esses sentimentos tendem a desaparecer com a mesma velocidade com que emergiram no calor dos ânimos exaltados.


Contudo, a lição proposta pela vida é a de sempre conquistarmos alguns passos à frente na caminhada que estamos trilhando rumo à maturidade. Mas como fazer com que um infortúnio se torne uma história de superação? Sem culpar pessoas ou acontecimentos, passemos a considerar as consequências do impasse que estamos enfrentando. Sem parar na dificuldade, busquemos as possíveis soluções ao nosso alcance. Pois, assim como o rochedo desafia um alpinista, as nossas diferenças permanecerão imóveis até que nos coloquemos em ação para superá-las.


Tal como as ondas do mar roubam as areias sob os nossos pés, as desavenças, impaciências, irritações, invejas solapam os alicerces das nossas amizades. Penso não existir coisa mais descabida numa relação pessoal do que o ato de “dar um gelo”, ou como alguns preferem dizer: “matar fulano no coração”, ou seja, esquecê-lo. Ignorar, mudar de calçada ou desconsiderar a presença de alguém, que antes fazia parte de nosso círculo de amizade, faz com que retrocedamos ao tamanho das picuinhas dos seres mais ínfimos que podemos imaginar. Seríamos injustos se comparássemos tais atitudes ao comportamento infantil, pois, na pureza peculiar das crianças, sabemos que logo após seus acessos de raiva, estas instantaneamente voltam à amizade sem nenhum ressentimento ou mágoa.


Pelos motivos acima apontados, muitas vezes, ferimos os sentimentos daqueles com quem convivemos; talvez, na mesma intensidade de uma agressão física.


Para nós adultos, reviver a aproximação com alguém que tenha nos ferido não é uma atitude fácil. Ninguém é superior o bastante para estar livre dos erros e deslizes em seus relacionamentos. Podemos ser vítimas, também, de nossos próprios ataques que, refletidos em atos potencializados pela ira, descontentamento ou ciúme, tenham decepcionado um amigo com nossas grosserias ou indiferenças. O restabelecimento desses abalos em nossas relações, ainda que não seja algo fácil, poderá ser possível ao tomarmos a iniciativa da reaproximação, por exemplo, a partir das atividades ou coisas que eram vividas em comum.


“Atire a primeira pedra aquele que nunca errou”. Assim, ao nos colocarmos na mesma condição – sujeitos aos mesmos erros – justificaremos a atitude do destrato sofrido não como sendo um comportamento próprio do nosso amigo, mas como resultado de uma faceta ainda desconhecida dentro do nosso convívio, a qual precisará ser trabalhada.


Deus abençoe o seu, o meu e o nosso esforço.

sábado, 14 de agosto de 2010

Necessidade do jejum


por Pe. Paulo Ricardo

Jejuar não é simplesmente passar fome


Não existe uma forma menos "sofrida" de adquirir a virtude da temperança? João Cassiano (370-435) explica por que é necessário que o corpo sofra um pouco. A razão é muito simples: não é possível cometer o pecado da gula sem a cooperação do corpo. E isso é evidente, já que os anjos, por exemplo, não podem pecar por gula, no sentido próprio da palavra. Ora, se é com o corpo que acontece o pecado, o combate à doença da gastrimargia só pode acontecer caso o corpo entre na luta. Por isso se deve fazer jejum.


Estes dois vícios [a gula e a luxúria] por não se consumarem sem a participação da carne, exigem, além dos remédios espirituais, a prática da abstinência. Na verdade, para quebrar os seus grilhões, não basta o propósito do espírito (como acontece em relação à ira, à tristeza e às outras paixões que, sem afligir o corpo, a alma sozinha consegue vencer), mas é imprescindível a mortificação corporal pelos jejuns, as vigílias e os trabalhos que levam à contrição, podendo-se acrescentar também a fuga das ocasiões insidiosas. Sendo tais vícios oriundos da colaboração da alma e do corpo, não poderão ser vencidos sem ambos se empenharem neste processo.


Nós, mediócres que somos, não temos a maturidade necessária para a santidade, por isso não seríamos capazes de nos manter em ordem, naquele equilíbrio que “tempera” a vida, sem o auxílio do jejum.


Com o jejum somos capazes de rechaçar as incursões hostis da sensualidade e libertar o espírito para que se eleve a regiões mais altas, onde possa ser saciado com os valores que lhes são próprios. É a imagem cristã do homem quem exige estes voos. Devemos estar prontos para a renúncia e a severidade de um caminho que termina com a instauração da pessoa moral completa, livre e dona de si mesma, porque um dever natural nos impulsiona a ser aquilo que devemos ser por definição.


Nunca é demais insistir no fato de que o jejum não nasce de corações ressentidos e que odeiam a vida. A Igreja e os seus santos sempre reconheceram a bondade fundamental desta vida e dos alimentos que a sustentam. Um santo não é um faquir, e o ideal ascético cristão nunca foi o de deitar numa cama de pregos ou engolir cacos de vidro.


Desde o Novo Testamento, a Igreja sempre condenou o "destempero" dos santarrões e das suas seitas.


Jejuar não é simplesmente passar fome. Se assim o fosse, a anorexia das modelos seria virtude heroica e os famélicos da história poderiam ser canonizados. Mas a simples fome não santifica ninguém. Para que dê o seu fruto, o jejum deve ser acompanhado de uma atitude espiritual adequada, pois a doença espiritual que desejamos curar é, seja permitida a redundância, espiritual.


O pecado não está no alimento, mas no desejo. São Doroteu de Gaza (século VI) explica isso a partir de uma comparação com o casamento. O ato sexual realizado por um devasso pode ser externamente idêntico ao de um esposo, mas sua natureza é completamente diferente. Nos atos humanos, a intenção não é um mero detalhe. Assim também é na alimentação. O homem sadio e o homem que sofre de gastrimargia podem comer os mesmos alimentos nas mesmas quantidades, mas somente o doente comete idolatria.

Quando, diante dos alimentos, nos esquecemos de Deus e começamos a desejar o nosso próprio bem, mais do que a glória de Deus, geramos uma desordem no nosso próprio ser.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Caminhamos na estrada de Emaús

As aparições do Cristo vivo e ressuscitado são cátedras de onde brotam fecundos ensinamentos. Se pararmos para meditar nas aparições do Cristo ressuscitado, à luz da fé, vislumbraremos que a misericórdia de Deus em favor dos homens é uma ação contínua. Vamos agora, guiados pelo Espírito Santo, adentrar na passagem de Emaús. Pelos relatos do Evangelho, temos conhecimento de que, no Domingo da ressurreição, Jesus Cristo foi ao encontro dos dois discípulos de Emaús e caminhou com eles, como um viajante. Desde o início da caminhada, Cristo, por meio de palavras e de gestos, revelava a Cléofas e seu companheiro: “Eu sou o primeiro, o último e o vivente. Estava morto mas agora vivo!” (Ap 1,17-18).


A caminhada de Emaús é marcada por passos lentos, pelo silêncio, pela tristeza e pela ausência de ideais. Cléofas e seu companheiro, por alguns momentos, se deixam sucumbir pelo cansaço e, por isso, deixam cair no esquecimento a advertência que São Paulo nos dá: “Não descuides do dom da graça que há em ti!” (1 Tm 4,14). Mas o descuido não era definitivo pois, de um modo misterioso, estes dois discípulos de Emaús, conseguem nos dizer: “Eu dormia, mas meu coração velava!” (Ct 5, 12). Lutemos com afinco contra o cansaço e o desânimo. Com humildade, é preciso que saibamos velar em atitude de oração. Em oração, com os ouvidos da alma bem abertos, poderemos dialogar com Cléofas e ouvir o que ele nos diz: “O Senhor foi convosco, porque vós fostes com Ele. Se o buscardes, achá-lo-eis; mas, se o abandonardes, Ele vos abandonará!” (2Cr 15,2). Esta é uma das primeiras lições que temos que aprender, trilhando o caminho de Emaús: Cristo ressuscitado caminha conosco e não nos deixa sozinhos. “Se hoje ouvirdes a Sua voz, não endureçais os vossos corações!” (Sl 94,8). Com o coração pulsando de santidade, examinemos nossas vidas, amparados pela Boa Nova de Cristo, e sintamos em nosso íntimo que o bem que há em nós é o somatório de inúmeras graças que Deus nos outorgou, pois “de Sua plenitude todos nós recebemos graça sobre graça”. (Jo 1,16)


Uma segunda lição que devemos aprender com os dois discípulos de Emaús é que, sem a presença de Deus em nossas vidas, somos apenas caminhantes sem destino, uns peregrinos conturbados. Diante das conturbações, é essencial saber proferir: “Senhor, foi por teu favor que me concedestes honra e poderio; mas apenas escondeste de mim o teu rosto, fiquei conturbado”. (Sl 29,8). Na caminhada da fé, em alguns momentos, muitos de nós atravessamos dias escuros, noites de insônia e de amargura. Nestes momentos, é de suma importância que saibamos dar profusão ao ardor do nosso coração, que nos fará vislumbrar que “a graça por Jesus Cristo nosso Senhor é concedida com tal liberalidade, a quem aprouver a Deus concedê-la, que sem ela não podemos perseverar, ainda que quisermos, mas é tão copiosa e eficaz que nos move a querer o bem”. (Santo Agostinho, “De correctione et gratia”, cap.XI,32). A graça é a essência do amor e, ao mesmo tempo, é o centro para o qual deve convergir toda a existência humana, para que seja revestida de justiça e de santidade. Nos nossos dias, Cristo continua a nos dizer: “Sois insensatos e lentos de coração para crer em tudo o que os profetas anunciaram!” (Lc 24, 25). Agindo assim, Ele nos demonstra que “a graça não exclui a correção, e a correção não nega a graça”. (Santo Agostinho, op.cit, cap XVI,49).


Uma terceira lição que aprendemos em Emaús é que, por meio das Sagradas Escrituras, Deus nos orienta e ensina. Ler as Escrituras é se predispor a ouvir a Deus, pois “a Escritura não é uma coisa do passado. O Senhor não fala no passado, mas fala no presente, fala hoje conosco, dá-nos luz, mostra-nos o caminho da vida, dá-nos comunhão e assim nos prepara e nos abre à paz”. (Papa Bento XVI, “Audiência” em 29 de março de 2006). Por intermédio das Escrituras, podemos perceber que a comunhão é verdadeiramente uma Boa Nova que extravasa nosso ser e nos leva a suplicar: “Permanece conosco, Senhor!” (Lc 24, 29). Cristo vivo e ressuscitado caminha conosco e O encontramos pessoalmente na Eucaristia. A fração do Pão deve ser, essencialmente, o gesto prioritário da nossa identificação com o nosso Redentor. Diante da Mesa Eucarística, podemos professar: “Jesus está no Santíssimo Sacramento como meu Salvador. Chega-se a mim para comunicar-me as Graças da Redenção, aplicar-me os Seus Méritos, fazer correr o Seu Sangue divino sobre o meu corpo e minha alma”. (São Pedro Julião Eymard, “A Divina Eucaristia”, volume 5).


Neste caminho de Emaús, é necessário ainda que aprendamos que a Ressurreição de Jesus Cristo é um forte apelo à realização de um sólido apostolado. É a plena certeza de que somos amados por Deus, que nos impulsiona a novas messes. Inspirados nos discípulos de Emaús, temos que permitir que o Espírito Santo nos conduza a um novo Pentecostes que nos leve a testemunhar com coragem, afinco e firmeza: “É verdade, o Senhor ressuscitou!” (Lc 24,34). A contínua união com nosso Redentor nos fará discernir que um fecundo apostolado é conseqüência da comunhão com Jesus Cristo!


Deixemo-nos contagiar pela atmosfera de santidade que emana do caminho de Emaús. Aprendamos com Cléofas e o seu companheiro a abrir nossos corações para ouvir o que Cristo tem a nos dizer. Ouçamos Suas admoestações e sintamos, no fundo do fundo da nossa alma, a certeza de que hoje e sempre precisamos de recolhimento para escutar a voz de Deus. Em íntima união com o Cristo vivo e ressuscitado, caminhemos com júbilo e alegria, anunciando ao nosso próximo: “Por maiores que sejam os teus sofrimentos, tua vitória sobre eles está no silêncio”. Em silêncio, deixemos que a luz do Cristo ressuscitado transborde em nosso ser!

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Vocação: Família

por comunidade Canão Nova
Erro é pensar que um relacionamento sobrevive de paixão

Ser casal é demonstrar todo o fascínio e também toda dificuldade, ligados à realidade da soma que o casal resulta: um + um = a três. Ou seja, ao mesmo tempo, na sua dinâmica, duas individualidades e uma conjugalidade. Como ser um sendo dois? Como ser dois sendo um?


Seja pela velocidade das informações, do avanço da tecnologia e da pressão advinda da modernização, algo é invariável: pessoas sempre serão pessoas, com suas individualidades e características próprias. Neste cenário, algo que se torna latente é a capacidade com que desejamos que nossas relações sejam “fast”, “rápidas”. E nessa corrida, pouco paramos para pensar, muito menos para avaliar o outro num relacionamento. Já reparou como é muito mais fácil desistir da pessoa e partir para outra do que parar, refletir, conversar, buscar uma nova forma de ser? É é isso mesmo... Parece que vamos “trocando de casal” assim como trocamos de carro ou computador. Mas, onde ficam os valores pertencentes à família?


O grande erro é pensar que um relacionamento sobrevive de paixão, e isso é uma ilusão.

Existem casamentos que ocorrem rapidamente, como no tal “amor à primeira vista”. Particularmente, ainda sou favorável a um processo de conhecer, aproximar-se, vivenciar as famílias um do outro. Conhecer o outro é conhecer também sua história: a educação recebida, a trajetória espiritual e humana, alguns eventos ou situações que possam condicionar seu futuro, experiências positivas e negativas que sejam contribuintes ou não no processo de formação (afinal de contas, eu não caso apenas com a pessoa, mas viverei também a influência familiar advinda com ela).


Lembre-se do quanto é valioso pensar naquilo que aceitamos com relação às diferenças um do outro. Alguns casais vivem diferenças nas crenças, mas conseguem administrá-las de forma muito tranquila. Outros, por sua vez, nem conseguem se imaginar casando numa religião diferente da sua. Mas e as divergências? Claro que elas sempre existirão em nossas vidas, mas o diferencial é a forma como as trataremos. Muitos casais encontram alegria quando tudo vai bem financeiramente; mas, na primeira dificuldade, iniciam-se os problemas, ou seja, de nada adiantou. Devemos ter clareza de que as pessoas não mudam com facilidade; quanto mais idade nós temos, tanto mais fixados interiormente estarão nossos conteúdos pessoais, nossas crenças, e com isso, mais dificuldade teremos para deixar um vício, fazer algo diferente, ver as coisas de outra forma.


Vivenciar um casamento dos pais que tenha sido conturbado não quer dizer que viveremos assim nossa vida pessoal de casados; muitas vezes, temos este padrão errado de pensar ou negamos a possibilidade do casamento motivados por essa questão. O mais importante nestes casos é discernir que eu não sou meu pai nem minha mãe e que posso construir uma história diferente daquela construída por eles.


Namorar, o início e a base de tudo: a fase do namoro é um dos passos mais importantes para a continuidade ou não de um relacionamento. É claro que não afirmo aqui com isso que namorar é garantia de um casamento eterno, mas, certamente, o processo de conhecimento do casal. Os tempos de cada fase de conhecimento existem. Portanto, tudo aquilo que é relâmpago pode apenas prejudicar as pessoas.


Quero dizer que casamento é vocação, dedicação mútua, é um ato de amor e tudo aquilo que a palavra "amor" engloba. Portanto, perceba se você que deseja se casar está aberto a todas as faces que o casamento requer de uma pessoa. Assim como uma vocação profissional, a vocação pelo estado de vida, seja ele o matrimônio, o celibato, a vida religiosa em suas várias dimensões, deve ser pautada nos valores que aquele modelo de vida possui e não apenas nos ideais ou sonhos que eu plantei em minha forma de ver o mundo. A partir da realidade com o cenário das aspirações pessoais de cada um é possível aproximar-se de uma forma mais realista do rumo que desejo para minha vida.


Que na busca pela vocação do ser família possamos vivenciar a família que promove a saúde e o crescimento emocional saudável dos seus membros, que possamos viver alegrias e dificuldades com sabedoria e maturidade favorecendo uma sociedade também mais saudável.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

VOCAÇÃO: UM CHAMADO A SANTIDADE

por comunidade Passio Domini

Escrever sobre vocação é sempre um grande desafio. É fato que poderia simplesmente discorrer alguns conceitos prontos sobre vocação. Veja bem, não que os conceitos sejam sem importância ou que não devamos sabê-los, pelo contrário, todo bom cristão deve ter vivo, como batizado, em seu pensamento, sua principal vocação: o chamado a santidade.

A Igreja nos chama neste mês de agosto a reflexão e oração a cerca da vocação num sentido mais profundo e de resgate do ser cristão, chamado por Deus ao desafio da evangelização.

Neste artigo quero tratar de maneira muito especifica o assunto vocação.

Comecemos por pensar na santidade. O que é ser santo?

Ser santo nunca foi fazer coisas imensas, mais deixar-se tomar por Deus, abandonar-se em suas mãos e com a vida testemunha–lo. Ela se expressa em cada ato, pensamento e sentimento do cristão. Isto só é possível através da oração (intimidade profunda com Deus) e conhecimento da Palavra de Deus.

A Eucaristia, que é o próprio Cristo (carne e sangue), vem como sustento do cristão. Alimenta sua alma e dá fortaleza para viver a Verdade onde quer que esteja.

Há aqueles a que Deus chama para uma vocação específica dentro do seu Estado de vida. Estes são chamados a estar mais próximos de Cristo e com isso configurar-se a Cristo. São estes os consagrados nas Novas comunidades ou Comunidades Novas.

O que é ser um consagrado há Deus nas Novas Comunidades?

É ser chamado a uma radicalidade de vida, a uma aproximação e configuração a Cristo a fim de tornar-se com isso o espelho de Cristo na terra para a humanidade.

O consagrado nas Novas comunidades, dentro do seu estado de vida (casado, celibatário, sacerdote, freira), deve testemunhar a grandiosidade de Deus levando esse mesmo Deus a quem não o conhece de maneira mais especifica.

A Igreja ao longo dos anos vivenciou sempre o surgimento do novo em seu interior. As Novas Comunidades são o NOVO que o Espírito Santo traz para nossos tempos. Neste NOVO somos chamados a santidade como em outros tempos pessoas comuns o foram a fim de lembrar ao mundo que Deus existe e está presente a todo o momento.

Podemos aqui lembrar alguns santos que fizeram essa opção radical por Deus e viveram esse NOVO no interior da Igreja, transbordando-o para o mundo. Neste mês lembramos especificamente dois: Santo Afonso e Santa Teresa Benedita da Cruz.

Cada um dentro de seu tempo trouxe a Boa Notícia de que “ser santo é possível” e “ nosso Deus realmente está vivo e nos ama sem medidas”.

Santo Afonso com sua vida e sua escolha pelo Reino, mesmo perdendo as regalias que o magistrado lhe dava (advogado e filho da nobreza de sua época), optou pelo melhor. Desde seu nascimento fora chamado por Deus e em sua idade adulta deu seu SIM incondicional a Ele.

Tornou-se sacerdote e fundador dos Redentoristas mostrando com seu viver que depender de Deus e ter intimidade com Ele é possível e necessário a todo aquele que deseja segui-lo.

Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein), de origem judia, de estudo acadêmico imenso para uma mulher de sua época, tornou-se atéia e veraz perseguidora da verdade. Ao encontrar a Verdade (Jesus Cristo) nos escritos biográficos de Santa Teresa converte-se ao cristianismo, rompendo assim com tudo e todos, pois para uma família judaica era inadimisível o cristianismo, torna-se carmelita e vai a clausura viver com seu amado de maneira intensa. Oferece sua vida dentro do Carmelo e transborda a graça de Deus além muros. Morreu em uma câmara de gás pelas mãos dos nazistas, desejando ardentemente o martírio, em lugar de uma família.

Uma de suas frases mais conhecidas retrata sua vida e busca incessante pela santidade: “É necessário perder para ganhar”. Perdeu tudo porém, ganhou O Tudo que é Deus.

Deus não cessa de chamar homens e mulher a uma vida de santidade. A uma vida de perene entrega pelo Reino, a fim de que todos aqueles que ainda não conhecem a Deus possam vê-lo em suas vidas.

A que você é chamado meu irmão, minha irmã? O que Deus lhe pede?

Quero terminar este artigo com o apelo feito pelo apostolo Pedro segundo a inspiração do Espírito Santo e, anseio da alma de todo consagrado ou chamado a consagração: “A exemplo da santidade daquele que vos chamou, sede também vós santos em todas as vossas ações, pois está escrito: Sede santos, porque eu sou santo” ( I Pedro 1, 16)

Busquemos a santidade, pois nosso Deus cuida de nós.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

O Tesouro encontrado

por Comunidade Shalom

Jesus, no evangelho de Mateus, nos conta uma parábola extraordinária sobre o tema da vocação. Ele nos diz assim: “O Reino dos Céus é semelhante ao tesouro escondido no campo; um homem o acha e torna a esconder e, na sua alegria, vai, vende tudo o que possui e compra aquele campo” (Mt 13,44).
Segundo a definição do Dicionário Aurélio, achar é: “encontrar por acaso ou procurando; deparar com”.
O homem aqui mencionado por Jesus é uma pessoa que se depara com um tesouro valiosíssimo. Seja porque está procurando, seja “por acaso”. Esse evento maravilhoso, no entanto, sob a ótica abordada tem suas origens na eternidade. Foi lá que o Criador começou a sonhar, a desejar, a amar, e a separar para Si a sua criatura. O homem assim é amado, pensado, querido por Deus e criado.
Uma vez chamado à existência é colocado nele a raiz que explica o seu mistério de vida. Mistério este de predileção e de chamado a trazer em si os traços característicos das Pessoas da Trindade. Mistério que indica o que é chamado a ser, a se tornar, e que fará plenamente feliz quem a ele aderir. É o seu grande tesouro.
Como é que então se dá a sua descoberta?
Faz-se necessário para responder a esta indagação prestar atenção ao que Jesus indica nesta passagem: a riqueza encontra-se “escondida” no campo. De maneira bastante singela, esse campo pode simbolizar duas realidades. A primeira é o coração do homem e a segunda é certo ambiente no mundo mesmo.
No que se refere ao coração, esse tesouro está escondido no mais profundo de seu ser, na sua identidade. Numa expressão, no seu nível ontológico.
Já com relação ao ambiente, tem-se que o mesmo é um lugar designado por Deus, onde Ele mesmo plantou uma expressão vocacional e que também precisa ser encontrado.
Assim, num determinado lugar, num contexto histórico, o tesouro precisa ser descoberto não só para enriquecer o homem, mas para enriquecer a Igreja, para presentear o mundo e para dar a sua contribuição para a História da Salvação da humanidade.
É por este motivo que Deus, dentro de sua total autonomia, sem se limitar a qualquer realidade humana existente por pior ou mais comprometedora que seja, através de seu Verbo... CHAMA! Chama a quem quer, da maneira que quer, quando quer e onde quer.
E esse chamado para uns desinstala, provoca, inquieta, “revira as entranhas”. Aquele que é chamado não consegue mais ignorar o Verbo que ressoa, e passa a ter a necessidade de dar uma resposta, de tomar conscientemente uma decisão. A pessoa é tomada de uma expectativa.
Felizmente, Aquele que chama é o mesmo que dá força e a coragem para a resposta. Começa, então, a procura do homem mencionado por Jesus. Passa ele a empreender uma grande busca.
Como o próprio Deus deseja mais do que ele, a Ação do Espírito Santo na História o encaminha até o campo, ou seja, até o lugar designado por Deus. Existem também aqueles que a mesma Divina Providência, através dos mais inesperados acontecimentos da vida, conduz a esse mesmo campo.
Nesse local o homem é despertado pela Voz do Cristo que diz a ele: “É aqui que eu te quero!” Ali ele toca o tesouro da vocação, o conhece, faz uma experiência dele e se dá conta que este mesmo tesouro também está dentro de si. Com isso, identifica-se, depara-se com o seu “eu ideal” e passa a ter uma necessidade imperiosa de que ele venha à tona, que seja concretizado, assumido.
Retornando à passagem bíblica, esse homem percebe que não tem condições de levar o tesouro consigo. Todavia, está com profunda alegria porque descobriu o sentido de sua vida, o “seu lugar na história”. Jesus então finaliza a parábola dizendo que esse homem vai, retorna para o seu local de origem e se desfaz de todas as suas posses para comprar o campo com o tesouro.
No caso presente, significa que ocorreu por parte deste homem a decisão livre e consciente de desfazer-se de tudo para conseguir abraçar a sua vocação. Da vida que vivia, daquilo que possuía, do local onde morava e até mesmo das concepções que tinha. Sem essa atitude é impossível acolher e ficar com o tesouro da vocação.
É o que Ele espera de você.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Jesus, a verdade que nos liberta

por RCC/nacional

“Eu sou o caminho, a verdade e a vida” Jo 14, 6a

Quero partilhar com vocês uma Palavra que recebemos do Senhor já por duas vezes, uma vez em momento de oração com a liderança dos estados num dos encontros regionais, a outra vez quando intercessores oravam pela Renovação de todo o Brasil. Esta Palavra encontra-se no livro do Apocalipse, capítulo três, versículos dezessete e dezoito: “Pois dizes: Sou rico, faço bons negócios,de nada necessito – e não sabes que és infeliz, miserável, pobre, cego e nu. Aconselho-te que compres de mim ouro provado ao fogo, para ficares rico;roupas alvas para te vestires, a fim de que não apareça a tua nudez; e um colírio para ungir os olhos para que possas ver claro.” Esta passagem parece descrever a situação em que muitos de nós ou aqueles que amamos se encontram, ou seja, cegados pela ilusão deste mundo, cegados pelas mentiras de Satanás e, portanto, cegos para a Verdade que pode nos libertar.

Jesus que disse “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” também disse que conheceríamos a verdade e ela nos libertaria. A moção que recebemos ao orar com essa passagem do livro do Apocalipse, foi de pedirmos a Jesus para nos libertar na sua Verdade, pois talvez tenhamos nos desviado do caminho que conduz à vida e, por esse motivo, enfrentamos tantas dificuldades, problemas, conflitos. Sentimos a moção de dizer a seguinte jaculatória diante de doenças, de vidas perdidas nas drogas, ou no pecado, ou diante de problemas de relacionamento, ou de situações de injustiça, ou de medo, ou de desânimo: “JESUS, LIBERTA-NOS NA TUA VERDADE!”. A Verdade é Jesus, ao clamar pela sua verdade estamos dizendo que aquela situação ou pessoa está sob o Senhorio de Jesus, está lavada no seu sangue, está redimida por Ele e será liberta por Ele. Ao clamar pela Verdade, que é Jesus, estamos pedindo ao Senhor para desmascarar toda mentira, dissimulação e engano que o inimigo de Deus e nosso está sempre querendo semear na nossa vida. Ao clamar pela Verdade, estamos pedindo a Jesus, a verdadeira luz que ilumina todo homem, que venha iluminar a nossa vida ou a vida daqueles por quem estamos clamando.

A Palavra, no livro do Apocalipse, diz que podemos receber de Deus uma unção para enxergarmos claro, uma unção que permite identificar os erros, os enganos, as ilusões nas nossas vidas. Ao clamarmos: “Jesus, liberta-nos na tua verdade!”, estamos pedindo para o Senhor nos dar essa unção e podermos, assim, ser libertos, nós mesmos ou aqueles por quem orarmos.

Peçamos também a Deus que venha nos assistir com a sua graça para que tenhamos a coragem de mudar e nos convertermos nos pecados e erros que sua verdade vai desmascarar.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Eu sou a porta...

por Chiara Lubich, Fundadora Focolares

"Eu sou a porta. Quem entrar por mim será salvo; poderá entrar e sair, e encontrará pastagem" (Jo 10,9).
Para aqueles que escutavam Jesus, a imagem da porta era familiar: vinha desde o sonho de Jacó e de Jerusalém das portas antigas, que Deus ama de modo particular.
Mas as palavras que Jesus faz suas, dando-lhes uma nova plenitude de significado, são as do Salmo 118, 20: «Esta é a porta de Iahweh: os justos por ela entrarão». Ele é a porta da salvação, que introduz às pastagens onde os bens divinos são livremente oferecidos. Ele é o único mediador e por meio dele os homens têm acesso ao Pai. «Ele é a porta do Pai — diz Inácio de Antioquia — através da qual entram Abraão e Isaac e Jacó e os profetas e os apóstolos e a Igreja».
Eu sou a porta....
Sim, a imagem da porta devia penetrar no coração dos judeus que, ao cruzar a porta da Cidade Santa e a do Templo, tinham a sensação da unidade e da paz, ao mesmo tempo que os profetas faziam sonhar com uma Jerusalém nova, de portas abertas a todas as nações.
E Jesus se apresenta como aquele que realiza as promessas divinas e as expectativas de um povo cuja história está toda assinalada pela aliança com o seu Deus, jamais revogada.
A idéia da porta se assemelha e se explica muito bem com a outra imagem usada por Jesus: «Eu sou o caminho. Ninguém vai ao Pai a não ser por mim». Portanto, ele é verdadeiramente um caminho e uma porta aberta ao Pai, ao próprio Deus.
Eu sou a porta....
O que significa esta Palavra concretamente na nossa vida?
São muitas as implicações que podemos deduzir de outras passagens do Evangelho que têm relação com o trecho de João, mas entre todas vamos escolher a da “porta estreita” através da qual é necessário se esforçar para entrar a fim de ter acesso à vida.
Por que esta escolha? Porque nos parece ser aquela que talvez mais nos aproxima da verdade que Jesus disse sobre si mesmo e que mais nos ilumina sobre como vivê-la.
Quando é que ele se torna a porta escancarada, plenamente aberta à Trindade? No momento em que, para ele, a porta do céu parece fechar-se, ele se torna a porta do Céu para todos nós.
Jesus Abandonado é a porta através da qual se realiza a comunicação perfeita entre Deus e a humanidade: tendo-se feito nada, une os filhos ao Pai. Ele é aquele vazio – o vão da porta – por meio do qual o homem entra em contato com Deus e Deus com o homem.

Ele é, portanto, ao mesmo tempo a porta estreita e a porta escancarada, e nós podemos fazer essa experiência.
Eu sou a porta....
Jesus no abandono se fez para nós acesso ao Pai.
A parte dele está feita. Mas, para desfrutar de tamanha graça, também cada um de nós deve fazer a sua pequena parte, que consiste em chegar até aquela porta e em atravessar para o outro lado. De que modo?
Quando a desilusão nos surpreende ou somos feridos por um trauma, ou por uma desgraça imprevista, ou por uma doença absurda, podemos sempre nos lembrar da dor de Jesus que personificou todas essas provações, e uma infinidade de outras mais.
Sim, Ele está presente em tudo aquilo que tem a ver com a dor. Cada sofrimento nosso é um nome dele.
Procuremos, então, reconhecer Jesus em todas as angústias – nos apertos da vida –, em todas as escuridões, nas tragédias pessoais e dos outros, nos sofrimentos da humanidade que nos rodeia. Todos os sofrimentos são Ele, porque Ele os tornou seus. Bastará dizer-lhe, com fé: “És tu, Senhor, o meu único bem” (cf. Sl 15[16],2). Bastará fazer algo de concreto para aliviar os sofrimentos dele nos pobres e nos infelizes, para ultrapassar a porta e encontrar do outro lado uma alegria, antes jamais experimentada, uma nova plenitude de vida.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

E se Jesus ficasse caído?


por RCC/Londres

Quantas vezes nos sentimos sobrecarregados com o peso da cruz? Já não nos é mais possível suportá-la. Então caímos. Não tenha vergonha de ter caído, muito menos sinta-se humilhado. O próprio Filho de Deus caiu, devido o árduo peso da cruz. Caiu, mas não ficou prostrado por terra; caiu, mas ergueu-se de forma tão mais espetacular do que quando estava antes da queda. Jesus estava espezinhado pelo peso da cruz. Era forçado a caminhar, ensaguentado, chagado, pelas vias de Jerusalém, mas todo seu caminho para o Calvário foi também o caminho para a glória. Se Jesus foi humilhado e caiu, nós que não chegamos nem à condição em que ele estava, também o seremos. Mas só poderemos vencer quando, reconhecendo nossa fraqueza e estimulados por um novo recomeço, nos levantarmos e prosseguirmos o caminho que a nós parece tão difícil.

Mas como poderemos compreender as palavras ressonantes de São Paulo também nos dias hodiernos? “Se, pois, somos atribulados, é para vossa consolação e salvação. Se somos consolados, é para vossa consolação, a qual se efetua em vós pela paciência em tolerar os sofrimentos que nós mesmos suportamos” (II Cor 1, 6). Suportar os sofrimentos é algo que a primeiro momento, e talvez a todo o instante, seja difícil, mas se estamos com Cristo, se encontramos o fim último nEle e se nos deixamos penetrar no seu amor, poderemos vencer todas as dificuldades e, mais que isto, poderemos fazer com que as dificuldades, as tribulações, se tornem caminhos para alcançarmos as virtudes.

Cair na vida cristã é parte de uma jornada. Não podemos é permanecer caídos. Jesus hoje dirige-se a nós e diz: “Levanta-te!” Também nós precisamos ser tomados por este impulso. Levantarmo-nos e dirigirmo-nos em direção de Cristo, Ele, e unicamente Ele, é a solução de todos os problemas. E os problemas só terão uma solução quando nos detivermos, antes, diante da imagem do crucificado.

Não deixe que as dificuldades sobreponham-se a sua fé cristã. Confie!

Olhemos para o Cristo. Para o calvário Ele foi sem jamais reclamar. Caiu e levantou-se, mesmo sabendo que iria morrer. Há meus irmãos! Como necessitamos de pessoas corajosas, capazes de dizerem com convicção: “Jesus, com a tua força eu superarei tal problema. Somente em ti confio, e sei que os problemas são mínimos diante de ti”.

Certamente se Cristo ficasse caído estaríamos entre trevas, atribulados, mortos pelo pecado e por todo o caos que ele provocou e provoca no mundo.

“Vinde a mim, vós todos que estais aflitos sob o fardo, e eu vos aliviarei” (Mt 11, 28). Todo o peso dos nossos pecados Jesus tomou sobre si. Se hoje são mais leves (apesar de muitas vezes não parecerem), foi Jesus quem os tornou assim. Ele, que sendo Deus e não tendo pecado, assumiu os nossos.

Sempre que encontrarmo-nos diante de alguma dificuldade olhemos para cruz. Lembremos que dificuldade e dor maior teve Jesus, crucificado inocentemente, e peçamos-lhe a graça da paciência, da humildade e, sobretudo, da fé.

Toda a dor cessará quando o amor for uma centralidade na vida humana.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

10 RAZÕES POR QUE SOMOS CONTRA O ABORTO


por Dr. Jorge Cruz
Médico


1. O ABORTO É CONTRA A VIDA

A Declaração Universal dos Direitos do Homem afirma que “todo o indivíduo tem direito à vida” (artigo 3.º). Também a Constituição da República Portuguesa declara que “a vida humana é inviolável” (artigo 24.º).
De acordo com a ciência, a vida humana tem início com a fecundação, resultante da união de um espermatozóide masculino com um óvulo feminino. Cada uma das células sexuais transporta metade da informação genética do progenitor, de modo que a célula resultante da fertilização, denominada ovo ou zigoto, recebe toda a informação genética necessária para orientar o desenvolvimento do novo ser humano.
O aborto provocado, independentemente do momento em que é realizado, acarreta sempre a destruição de uma vida humana, a quem é negada a continuação do seu desenvolvimento, impedindo-se o seu nascimento e a expressão do seu potencial como criança e adulto.
Assim, qualquer referendo ou decreto-lei que legitime a morte de um ser humano indefeso, designadamente a despenalização do aborto, sem qualquer indicação médica que o justifique, é um atentado claro contra a vida humana, e viola a própria constituição portuguesa e os direitos fundamentais do ser humano, expressos na Declaração Universal dos Direitos Humanos.

2. O ABORTO É CONTRA A MULHER

Sejam quais forem os motivos que a originam, alguns permitidos por lei, qualquer interrupção da gravidez é uma agressão para a saúde física, mental e emocional da mulher. Sabe-se actualmente que qualquer mulher que aborta voluntariamente, mesmo nas melhores condições de assistência médica, tem um risco acrescido de lesões do aparelho genital, infertilidade, abortamentos espontâneos posteriores, prematuridade em gravidezes ulteriores, entre outros. Mais difíceis de quantificar, mas não menos importantes, são as consequências ao nível da saúde mental, nomeadamente depressão, sentimentos de culpa, sentimentos de perda, abuso de substâncias tóxicas e mesmo suicídio. O Colégio da Especialidade de Psiquiatria do Reino Unido (Royal College of Psychiatrists) chamou a atenção, já em 1992, para uma das consequências da liberalização do aborto nesse país: “Ainda que a maioria dos abortos seja realizada com base no risco para a saúde mental da mulher, não há justificação de natureza psiquiátrica para o aborto. [Pelo contrário], coloca as mulheres em risco de sofrerem perturbações psiquiátricas, sem resolver qualquer problema dessa natureza já existente”.
Por outro lado, a despenalização total do aborto, ainda que nas dez primeiras semanas de gravidez, em vez de valorizar a vontade da mãe da criança pode expô-la a pressões por parte de familiares, do pai da criança, da entidade patronal ou mesmo de profissionais de saúde (p.e. por um alegado risco de malformações no feto, que muitas vezes não se verifica), no sentido de interromper a gravidez, mesmo contra a sua vontade. Quanto mais permissiva for a lei, maior é a probabilidade destas situações ocorrerem.

3. O ABORTO É CONTRA O HOMEM

O aborto não pode reduzir-se a um acto que apenas envolve a mulher que o pratica. Há pelo menos mais dois elementos fundamentais em todo o processo: o pai da criança e obviamente o nascituro.
Ao valorizar-se a vontade da mulher de prosseguir ou não com a gravidez, remete-se para segundo plano ou ignora-se por completo a vontade do homem, co-responsável pela concepção e paternidade. Desse modo, desvaloriza-se a sua participação no processo procriativo. Ainda que muitas vezes o elemento masculino do casal não assuma a sua responsabilidade na família, através da despenalização e promoção do aborto livre, descartam-se completamente os deveres do pai da criança.
Sabe-se também, actualmente, que os homens podem sofrer de depressão pós-aborto, especialmente quando tal acto é realizado sem o seu conhecimento e autorização.

4. O ABORTO É CONTRA A CRIANÇA

Já no célebre Juramento Hipocrático (IV a. C.), ao qual os médicos têm procurado obedecer ao longo dos séculos, é expressamente referido: “não fornecerei às mulheres meios de impedir a concepção ou o desenvolvimento da criança”. Condenamos assim, veementemente, a tese de que “as mulheres têm direito ao seu corpo”, na medida em que esse suposto direito colide com princípios que consideramos absolutos, como o direito à vida do nascituro, que apresenta identidade genética própria, distinta dos progenitores.
Nos países que despenalizaram o aborto, os seres humanos correm maior risco de terem uma morte violenta nos primeiros nove meses da sua existência do que em qualquer outro período da sua vida. O útero materno, que deveria ser o lugar supremo de protecção da vida humana tornou-se assim tragicamente, nas últimas décadas, num dos locais mais perigosos. Além disso, sabe-se que muitas crianças, quando descobrem que a sua mãe fez um aborto, numa outra gravidez, desenvolvem perturbações mentais que podem requerer apoio psicológico ou psiquiátrico.

5. O ABORTO É CONTRA A FAMÍLIA

Os filhos são uma parte integrante e significativa de cada família, considerada um dos pilares fundamentais das sociedades civilizadas. A ênfase dada à autonomia da mulher sobre a sua gravidez prejudica o relacionamento conjugal e familiar. Aliás, sabe-se que mais de 80% dos abortos provocados resultam de relações sexuais extra-conjugais.
Sabe-se também que uma percentagem significativa de gravidezes não planeadas e mesmo não desejadas, se não forem interrompidas, levam invariavelmente ao nascimento de crianças que acabam por ser extremamente apreciadas e amadas pelos seus pais.
Por outro lado, ao impedir-se o nascimento de crianças através do aborto está-se a contribuir para o grave problema demográfico resultante da diminuição acentuada da taxa de natalidade, em muitos países ocidentais. O mesmo se verifica actualmente em Portugal, o que acarretará consequências nefastas a nível económico e social.

6. O ABORTO É CONTRA A CONSCIÊNCIA

É um facto incontestável que ao longo da história da humanidade, por influência do cristianismo, o aborto era considerado um crime, passível de punição. Contudo, nas últimas décadas, tem-se assistido a uma tendência no sentido da desvalorização da vida humana.
A nível individual, é indiscutível a sensação de culpa que a realização de um aborto acarreta, tanto à mulher que a ele recorre como à pessoa que o pratica. Tal facto deve-se à consciência que cada ser humano possui, e que o ajuda na tomada de decisões morais. Como afirma um provérbio francês, “não há travesseiro mais macio do que uma consciência limpa”.

7. O ABORTO É CONTRA A DIGNIDADE HUMANA

A tradição moral judaico-cristã sempre se preocupou com a defesa dos mais fracos e vulneráveis, como é o caso das crianças, dos órfãos, dos idosos e das viúvas. O aborto nunca é uma solução dignificante, nem para quem o pratica, nem para a mulher que a ele se submete, e muito menos para a criança inocente.
Concordamos com o relatório-parecer sobre a experimentação no embrião, do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida (1996) que afirma que “a vida humana merece respeito, qualquer que seja o seu estádio ou fase, devido à sua dignidade essencial”.
É também um facto indiscutível que o número de abortos aumentou, por vezes exponencialmente, em todos os países que despenalizaram a sua prática.

8. O ABORTO É CONTRA O DIREITO À DIFERENÇA

Em muitos países ocidentais, a liberalização do abortamento provocado tem impedido o nascimento de crianças com anomalias cromossómicas, das quais a trissomia 21 (síndrome de Down) é a mais frequente, bem como com malformações congénitas perfeitamente compatíveis com a vida, e muitas delas com correcção cirúrgica pós-natal, como é o caso do lábio leporino ou do pé boto. Situações mais graves e complexas, como certas malformações cardíacas, podem também ser tratadas cirurgicamente, por vezes mesmo antes do nascimento.
O abortamento destas crianças contribui para uma desvalorização e discriminação de pessoas com deficiências sensorias, motoras e/ou cognitivas, que vivem vidas adaptadas e felizes, apesar das limitações.

9. O ABORTO É CONTRA A ÉTICA

O aborto, o infanticídio, o suicídio e mesmo a eutanásia eram relativamente comuns e socialmente aceites no mundo antigo greco-romano. O abortamento provocado ocasionava, geralmente, a morte da mãe. No século IV a.C. Hipócrates de Cós, com o seu Juramento, impõe uma ruptura com a cultura da morte que prevalecia nessa época. Mais tarde, após a humanização do Direito, por influência do Cristianismo, o aborto passou a ser considerado um crime no mundo ocidental. Deste modo, a norma ética, ao longo dos séculos, tem sido a defesa da vida humana desde a concepção. O aborto induzido é, assim, contra a ética, pois colide com o princípio fundamental da inviolabilidade da vida humana.
Nos raríssimos casos-limite em que a continuação da gravidez põe em risco a vida da mãe, o aborto poderá ser a única forma de salvar a sua vida, o que a actual lei já prevê.

10. O ABORTO É CONTRA DEUS

Para além de todas as razões atrás mencionadas, consideramos que o aborto é uma clara violação da vontade de Deus, revelada nas Escrituras Sagradas. O quinto mandamento declara precisamente: “não matarás” (Êxodo 20:13).
Encontramos na Bíblia a revelação inequívoca de que Deus valoriza a vida humana desde a concepção e que está envolvido no processo procriativo, como p.e. no texto seguinte, da autoria do rei David (Salmo 139: 13-16):
”Foste tu que formaste todo o meu ser; formaste-me no ventre de minha mãe (...) Conheces intimamente o meu ser. Quando os meus ossos estavam a ser formados, sem que ninguém o pudesse ver; quando eu me desenvolvia em segredo, nada disso te escapava. Tu viste-me antes de eu estar formado. Tudo isso estava escrito no teu livro; tinhas assinalado todos os dias da minha vida, antes de qualquer deles existir”.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

A bênção da minha família sou eu


por Ricardo e Eliana Sá

“Quem tem que mudar sou eu”. Nós queremos trazer até você coisas bem concretas das razões pelas quais quem tem de mudar somos nós. Nós precisamos entender que o amor de Deus está presente em cada um de nós, por isso, tudo muda quando eu entendo que o amor de Deus está presente em mim e que eu é que tenho de mudar para fazer da minha família este ninho de amor.

Todas as vezes em que eu amo minha família é Deus quem a está amando. O amor de Deus começa nos meus gestos mais simples, nas coisas do dia a dia, na cama com um “bom dia”, “Deus te abençoe” e ali nós começamos o dia nos amando. Muitas vezes nos falta a coragem de dizer, de pedir o perdão, dizendo: “Eu errei”, de assumir as nossas limitações, porque a cruz mais pesada que temos de carregar somos nós mesmos, porque o outro apenas revela as limitações que nós temos, por isso devemos ter a coragem de parar de culpar o outro.
Quem tem que mudar sou eu! Não posso mais culpar ninguém, principalmente quando perceber que minhas limitações são mais evidentes quando vejo as qualidades ou os defeitos dos outros. Não é um esforço fácil, é um esforço imenso.

Nós fazemos questão de dizer que somos um casal que luta, não somos um casal perfeito. Quando nós lemos a vida dos santos percebemos que existem muitos mais santos padres e celibatários, e nós esquecemos que a nossa santidade está nas coisas concretas do dia a dia, é uma luta a dois. Nós somos iguaizinhos a vocês e, em muitos momentos, somos mais pecadores do que vocês.

A minha casa é uma bênção e eu preciso ser a melhor e a maior bênção para ela. Entenda de uma vez por todas que quem tem de mudar é você, por isso pare de reclamar da sua família, pare de fazer aquela oração encomendada para os outros, porque às vezes você é a primeira pessoa a falar mal da sua família. Que de sua boca não saia mais nenhuma palavra de maldição para a sua família.

O monsenhor Jonas Abib “transpira” a presença de Jesus, por isso a gente quer ficar próximo dele, porque ele é uma bênção. Da mesma forma, lá na sua casa os seus precisam "brigar" para ficar perto de você porque você precisa ser uma bênção, você precisa exalar o amor de Deus. Sua casa será abençoada porque você será o(a) abençoado(a)! Você precisa chegar em casa e as pessoas precisam dizer: “Chegou a bênção desta casa!”

Como está indo o seu esforço de ser uma pessoa melhor? Nós mesmos não mudamos ninguém, quem muda as pessoas é Deus, mas estas se abrem para o Senhor quando elas encontram um ambiente, quando elas encontram alguém que as ajude a se abrirem para o Senhor, por isso você precisa mudar. É uma mudança radical para o dia a dia, ou seja, você precisa ser o amor que sua família precisa, sem reclamar. As pessoas estão cheias de ouvir reclamações, tem gente que já ficou até rotulada de “reclamão”