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'SE CALAREM AS VOZES DOS PROFETAS AS PEDRAS FALARÃO'








sexta-feira, 20 de agosto de 2010

“Mas descerá sobre vós o Espírito Santo e vos dará força...” (At. 1,8)

Deus, que não cessa de manifestar seu amor por nós, após haver morrido numa cruz e ressuscitado ao terceiro dia para nos salvar e nos dar novamente acesso ao céu, ainda promete e derrama o Espírito Santo sobre todos nós como um outro Paráclito (defensor, advogado, intercessor), para que fique eternamente conosco (conf. Jo. 14, 16-17). Lemos no Livro dos Atos dos Apóstolos que o derramamento do Espírito Santo tem um propósito bem definido: dar-nos força! Assim, o Senhor não derrama o seu Espírito apenas para que tenhamos um bem-estar, uma sensação boa, um toque nas emoções; ao contrário, desse derramamento advém algo novo, uma revolução, ou melhor, uma renovação acontece em nossas vidas. “Mas descerá sobre vós o Espírito Santo e vos dará força...” Força para quê? Consigo identificar pelo menos seis significados para o termo “força”.



O Espírito Santo nos dá força para perseguirmos a santidade, ou seja, força para assumirmos a Salvação. O Espírito nos impele a retomarmos nossa dignidade de filhos de Deus, vivermos como homens e mulheres resgatados, libertos do pecado, verdadeiramente livres da escravidão. Ser santo, pois, significa buscar as coisas lá do alto (conf. Col. 3, 1), tomar posse da vida nova dada por Cristo, fazer adesão pessoal à Pessoa de Jesus como Senhor Absoluto de nossas vidas. É, ainda, nossa resposta amorosa ao Amor de Deus. Ser santo significa viver em verdadeira liberdade, aquela segundo a vontade de Deus. É procurar ser como Jesus em todas as áreas de nossa vida: no casamento, no namoro, em família, na vida profissional, no lazer, nas conversas, nos pensamentos, nos olhares, nas atitudes... Evangelizar com a vida. É estar em profunda comunhão com a Santíssima Trindade. Pentecostes, antes de ser derramamento de carismas, é dom de santidade. Uma santidade entranhada, interior, provocada pelo convencimento do Espírito Santo acerca do pecado (conf. Jo. 16, 8), e não meramente comportamental ou moralista. Ninguém pode se tornar santo, a não ser pela ação do Espírito Santo.



Esta “força” que vem do alto também deve ser vista – e este é o segundo significado – como um impulso, uma disposição para deixar-se converter interiormente, deixar o Espírito Santo mudar a mentalidade. Não podemos ser pessoas fechadas a mudanças. Devemos deixar que o poder do Espírito aja nas diversas áreas do nosso coração e da nossa mente, sempre mais. Ele quer tocar e equilibrar nossas emoções, nossos sentimentos, nosso temperamento, nossas ideologias, nosso modo de pensar, nossos conceitos. É precisamente um trabalho interior criterioso e muitas vezes doloroso. Esta obra gera em nós um progresso espiritual fecundo, uma ascese, vamos tomando a forma da porta estreita, que é Jesus. O maior milagre que o Espírito Santo pode realizar é a nossa conversão interior, pois isso envolve a nossa liberdade de escolha, nosso livre arbítrio. O mais bonito da Festa de Pentecostes narrada nas Escrituras foi a conversão dos apóstolos.



O Espírito Santo nos dá “força” para buscarmos uma vida de oração e de vivência da Palavra de Deus. Deus tem sede de que nós tenhamos sede d’Ele. Assim, a oração é o encontro amoroso dessas duas sedes, é o momento de intimidade com o Senhor, “é a elevação da alma a Deus” (S. João Damasceno), é momento de diálogo com o Deus de Amor, que se nos revela. O Espírito nos impulsiona a esta nova perspectiva, a da penetração espiritual, da intimidade com o Senhor. Se queremos caminhar em segurança precisamos escutar a voz do Pastor e não nos deixarmos levar por outras vozes (conf. Jo.10, 14). Ora, como reconheceremos a voz do Pastor, senão através de uma vida de intensa oração? O Espírito Santo nos transforma em verdadeiros adoradores. O Livro do Êxodo nos diz que Moisés se entretinha com Deus na tenda e saía de lá com a face brilhando. Também nós precisamos irradiar a glória de Deus no mundo a partir da nossa profunda intimidade com Ele. Além disso, Deus fala conosco e nos ensina pela Sua Palavra. A Bíblia é luz para guiar nossos passos, não nos deixa sem rumo ou direção. Aquele que conhece e vive a Palavra de Deus não sai da estrada. Lembremo-nos de que Jesus venceu Satanás no deserto pelo poder da Palavra. A Palavra de Deus forma a consciência cristã e torna-nos aptos para toda boa obra. É o Espírito Santo que nos dá a compreensão e o profundo gosto pela Palavra de Deus; ao mesmo tempo, também por ela, vai restaurando em nós a imagem e semelhança com o Criador.



Um outro aspecto do termo “força” é, precisamente, uma coragem madura para renunciar a si mesmo, tomar a sua cruz e seguir Jesus. O cristão só é autêntico se juntar-se à morte de Cristo. Trata-se de uma dimensão do martírio que é a doação livre da vida pela causa de Cristo e do Evangelho. Isto significa também morrer para si mesmo (planos, projetos, honras, glórias, cargos, orgulho próprio, falsas seguranças, manias pessoais, individualismo, competições, prepotência, falsa superioridade, etc). Morrer para si mesmo sendo perseguido, humilhado, injustiçado, caluniado, ferido. Morrer para si mesmo significa ter como meta a vontade do Senhor e doar-se inteiramente ao outro, fazer-se tudo para todos, não fugir dos problemas e das aflições; ao contrário, abraçar a cruz com louvor, esperança e muita fé. Não faço aqui qualquer apologia ao sofrimento humano; todavia, este é inevitável em nossa vida e serve como meio para nossa purificação e crescimento espiritual. Certa vez ouvi de um Padre: “do madeiro da cruz sai o óleo da Unção (de poder, de vitória, de alegria interior, de paz, de autoridade espiritual)!” Lembro-me, ainda, de um dos sensacionais livros do querido Padre Jorge Tadeu Hermes, “Não Jogue Fora Suas Lágrimas!” Cristianismo sem cruz é falso! Engana-se aquele que procura falsos alívios da cruz em doutrinas sem qualquer fundamento cristão sério. “Em Deus ninguém entra de um modo correto, a não ser via o Crucificado” (São Boaventura). Por obra do Espírito Santo, temos um impulso sobrenatural para suportar a cruz com louvor e amor. Os primeiros cristãos, ao serem presos, cantavam louvores ao Senhor enquanto eram jogados na arena para servirem de alimento para os leões. Esses louvores assombravam o Imperador e sua Coorte.



Deus derrama seu Espírito sobre nós dando-nos “força” para vivermos em comunidade. O homem que se isola é infeliz, pois somente se completa em seu semelhante. O Espírito Santo nos capacita para um relacionamento autenticamente cristão com as pessoas ao nosso redor. Impulsiona-nos a nos decidirmos pelo amor ao outro, pela entrega de si ao próximo. A medida desse amor é a mesma de Cristo: um amor incondicional, até às últimas conseqüências, um amor que não faz distinção de pessoas, que acolhe, que perdoa, que aceita o outro como ele é, um amor maduro e decidido, que respeita o limite do outro, que é solidário. Comunidade, antes de se fazer, é um jeito de ser. A Igreja é uma grande comunidade, chamada à excelência neste projeto do coração de Deus. Se queremos uma transformação em nossa sociedade, precisamos, antes, transformar nossas relações dentro de nossas casas, nos locais de trabalho, na vizinhança, nos nossos Grupos de Oração, na Paróquia, na rua, na Universidade. Ser comunidade, ao contrário do que se pensa, não é fácil. Requer muito amor, decisão, compromisso, perseverança, doação, humildade, dedicação, abertura, capacidade de perdoar. Precisamos fazer a nossa parte estando certos de que o Espírito Santo nos ajuda. Que nossas famílias sejam autênticas comunidades cristãs a irradiarem a glória de Deus para o mundo. Celebrando Pentecostes em família!!!



O sexto e último significado do termo “força” que nos propomos a tratar aqui é: O Espírito Santo nos dá “força” para sermos missionários-carismáticos. O derramamento do Espírito Santo recebido no Sacramento do Batismo e trazido à nossa consciência pela experiência da Efusão do Espírito Santo nos impulsiona à missão, a expandir o Reino de Deus neste mundo. Para isso, Ele nos dota de carismas, que são dons de serviço, dons para a edificação da Igreja. A partir do momento em que somos discípulos – aqueles que fazem a experiência de Deus, que escutam a voz do Mestre, que têm intimidade com Ele –, podemos ser apóstolos, missionários enviados por Deus aos confins do mundo. A este propósito, precisamos refletir sobre o seguinte: estamos exercendo os carismas de forma responsável? Os estamos exercendo, de fato, no poder do Espírito? Precisamos afastar para longe de nós a banalização dos carismas, o puro emocionalismo, a imitação, a falta de discernimento, a imprudência, a falta de zelo. Por outro lado, não podemos enterrá-los, enquadrá-los em espécies de formas; daí a importância de se buscar a formação constantemente.



Somente assim seremos “testemunhas em Jerusalém, Judéia, Samaria e até os confins do mundo (At. 1, 8b)”. E Jerusalém, Judéia, Samaria e os confins do mundo são o nosso lar, a nossa família, os nossos vizinhos, os colegas de trabalho, os desafetos, os irmãos de caminhada e todos aqueles que de alguma forma tivermos contato. Oportunidades para sermos testemunhas de Cristo não nos faltam!

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